Sempre
gostei da expressão clichê “deixa a poeira baixar”... Ela exige de nós uma
pausa diante de uma situação que pode ser desagradável, caótica. Exige que
deixemos de lado os impulsos, as paixões, e analisemos com racionalidade (no
sentido de crítica e reflexão). Em muitas situações da vida precisamos deixar
as paixões de lado para podermos nos posicionar diante dos fatos do cotidiano,
das polêmicas, mas não é bem assim que agimos. Em especial nesse século em que
vivemos na sociedade da imagem (estática ou dinâmica), do “vigiar e punir”.
Nessa
sociedade os fatos tornam-se espetáculo acessível a todos. Em especial aqueles que podem evidenciar
aquilo que pode ser considerado uma mazela social. Somos o tempo inteiro vigiados
e levados aos tribunais da cultura, habitados por deuses que necessitam, antes
de tudo, culpabilizar alguém. As câmeras estão por todo lado... Engana-se
aquele que pensa que não está sendo vigiado...
Tive
o desprazer de assistir na mídia televisiva essa semana reportagens patéticas que
discutiam sobre vídeos produzidos por alunos (os deuses que necessitam vigiar e
punir) de escolas públicas de Capanema. A falta de pauta da mídia idiotizada
idiotizante torna polêmica o dejavu, o que outrora não era tornado objeto de
consumo para alimentar a carnificina. A falta de fundamentação da mídia para se
posicionar diante dos fatos evidencia-se quando a única saída é o olhar
maniqueísta. Como a mídia nunca foi e nunca será imparcial, resta a ela julgar
e dar o veredicto final com as lentes fascistas do certo e do errado (e nem
quero discutir sobre o jogo medíocre de conseguir mais audiência, do
sensacionalismo, da idiotização).
Meus
ouvidos sedentos não ouviram nenhuma análise com teor crítico-reflexivo, que
vislumbrasse os fatos além dos fatos ou a questão histórico-social que torna
acessível os fatos. Chega de culpabilizar!!! Nem a escola nem a família são culpadas... A violência e o sexo são
históricos...
Quanto
à violência, Lembrei-me da época que estive na escola básica como aluno. A violência
era muito mais latente. Ficou marcado na minha memória o enunciado que
anunciava que no final aula haveria espetáculo circense, às vezes sangrento: “Te
pego na saída”... Mas quem viu, viu!!! Quem não via tinha que de se contentar
com as narrativas sobre o fato. E isso no máximo ia parar na diretoria da
escola...
Quanto
ao sexo, recordo-me de inúmeros episódios que envolviam esse fato à época de escola.
Quando voltei pra escola como professor, também ficava assustado com algumas
narrativas acerca das orgias infanto-juvenis no ambiente escolar ou envolvendo o
nome da escola indiretamente; os famigerados deveres de casa, feitos em grupo, e
o leitor já imagina o que acontecia, mas nada de vídeos e fotos sendo compartilhadas por todos. Longe das pseudo-concepções moralistas, o
casal pecou ao escolher o local inapropriado (falta de respeito com o espaço escolar,
isso sim é imoral) e ao esquecer dos olhos cinematográficos sedentos por
flagrantes dessa natureza. Ao invés de filmar para punir expondo nas redes
sociais era suficiente comunicar à coordenação da escola que tomaria as medidas
necessárias, não?
Antes de julgar e condenar pare para
refletir... Vivemos um “Big Brother” da vida privada, que pode torna-se pública.
Só que não somos premiados com um milhão de reais, mas podemos ser tornados o
lixo descartável da sociedade... Hoje, infelizmente, todos estamos suscetíveis
de virar polêmica e podemos ser
vitimados pelo júri dos deuses populares com as perspectivas medíocres que
lhes convém, pautadas em duas possibilidades únicas: certo e/ou errado... Fica o aviso: ATENÇÃO!!!
VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO: JULGADO, CONDENADO E PODE SER POLEMIZADO!!!! Ops, esqueci de fechar a janela enquanto escrevia...
Sua reflexão é muito pertinente. Dia virá em que só haverá uma profissão, a de repórter. O diz-que-me-disse contemporâneo vem embasado em fotos e vídeos, ao contrário da antiga fofoca que era feita apenas no boca-a-boca. E salve-se quem puder. Ou quem tem tiver quatro paredes sem nenhuma câmera. Mário Zumba
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