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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

“ESPELHO, ESPELHO MEU...”: SOMOS AQUILO QUE VEMOS???!!!

Na sociedade global a imagem é um bem de primeira necessidade, coisa de suma importância; somos a era do símbolo, do ícone, da tecnologia, do “Photoshop”, da cirurgia plástica... Daí, paradoxalmente, o cuidado/descaso com a autoimagem e/ou a saga para suprir um padrão imposto pelas mídias. A beleza sempre foi tema de infindas discussões; Para Platão, o belo é o bem, a verdade, a perfeição; tem existência própria, desvinculado do mundo sensível, residindo, assim, no mundo das idéias. Para esse filosofo o belo independe do conceito dado pelo homem. Contrário a Platão, Aristóteles defende que o belo seja inerente ao homem, não pode estar desvinculado daquilo que é sensível ao homem. S. Tomás de Aquino, na idade média, descreveu uma das mais concretas e louváveis reflexões acerca da beleza: “aquilo que provoca um conhecimento gozoso”, em outras palavras, o prazer que nos é provocada pelo belo; visto de uma ótica individual.

Em todas as épocas e sociedades atribui-se conceitos ao belo, que vêm alterando-se de acordo com o tempo, espaço, culturas etc. Na antiguidade clássica o belo estava ligado à ideia de simetria (proporção) e, ter um corpo perfeito era sinônimo de saúde e virtuosidade: “corpo são em mente sã” (era o slogan). Na idade média os corpos rechonchudos (mais avantajados) eram sinônimos de virilidade, fertilidade, saúde e, também, status sociais; pobreza, doenças e incapacidade de ter filhos sadios eram somadas à magreza. Nesse período, devido o poderio da igreja, o belo, também, estava vinculado ao plano metafísico e, identificava-se com Deus (perfeição); Santo Agostinho, filosofo da época, ponderou: "As coisas são belas porque agradam, ou agradam porque são belas? Respondo sem vacilar: agradam porque são belas.". No renascimento o conceito de belo resgata a proporcionalidade da antiguidade clássica conectada, claro, à saúde. No século XIX a magreza começa a ser incorporada nos padrões de beleza. Claro que Estes padrões não eram massificados.
 
Opondo-se a tudo isso, chegamos ao modelo de beleza veiculado no século XXI, um arquétipo surreal e desumano, fruto da era da tecnologia da comunicação e informação: corpos delgados, longilíneos, esbeltos com algumas partes maximizadas, de pele branca, cabelos loiros e olhos azuis. Este padrão cosmopolita, globalizado, está associado, de forma explícita, ao consumismo e gera uma idealização desse tipo físico corporal, relacionando-o aos ideais de beleza, felicidade e ao poder de atração sexual; tudo isso é imposto, despoticamente, pelas mídias.

Segundo uma pesquisa recente, que envolveu homens e mulheres de 10 países (claro que elas vitimam-se demasiadamente), mais da metade dos brasileiros estão insatisfeitos com sua imagem e atratividade física. Estamos também no ranking de países que mais fazem plástica no mundo. Quantos não sacrificam a própria vida submetendo-se à ditadura do belo: casos e mais casos de morte no Brasil. “As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental”... Se Vinicius de Moraes estivesse vivo, talvez, ele repensasse este clichê.

Houve um tempo em que a ideologia “somos aquilo que comemos” era bastante amplificada na sociedade; buscava-se uma reeducação alimentar, alimentação antroposófica, com o intuito de ter uma vida mais saudável. Hoje, podemos ratificar, parodiando esse slogan, que “somos aquilo que vemos”; a imagem “photoshopada”, artificial, inorgânica é modelo venerável. Até o ciclo natural da vida já foi alterado, transposição do mundo virtual para o real. A síndrome de “Peter Pan”, negação ao envelhecimento, assola nossa sociedade; os especialistas em cirurgia plástica agradecem...

Então, o padrão de beleza contemporâneo é um protótipo natural, sinônimo de saúde, ou uma invenção tecnológica, virtual, surreal? Precisamos ter consciência corporal, respeitar o próprio corpo, as fases da vida, parar de pensar que somos bonecos de massinha ou uma imagem virtual que pode ser moldado e/ou “photoshopada” de acordo com tendências efêmeras, frívolas. Na sociedade do “fast food”, do expresso, do instantâneo, do transgênico, buscar um padrão de bem-estar do corpo com uma boa alimentação, associada à prática da atividade física, garantirá uma vida mais saudável em todos os sentidos e, isso refletirá na autoimagem. Deveríamos correlacionar o vocábulo BELEZA aos mesmos sentidos que eram dados na Grécia antiga (KALÓN): amor, bondade e justiça; ao primeiro, principalmente, pois, sobretudo, deveríamos ter amor próprio. Não à ditadura da beleza, porque, como canta Maria Rita, “Nem! / Toda feiticeira é corcunda / Nem! / Toda brasileira é bunda (...)”.

(HADSON DE SOUSA)

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