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sábado, 10 de março de 2012

OURICURI: O RIO ETÉREO...


GOOGLE IMAGENS

Enfim, depois de muitos dias de expectativa, pude/consegui tecer esta crônica (ou sei lá que gênero...), que desejei ardentemente... Foi um período desértico... De longos e intermináveis dias de sol a pino. Tudo seca, tudo seca... Até a mais indelével paciência desidrata. Não sei como resisti ao processo de calefação. Nem a lama escapa... Talvez metade de mim tenha se esvaído. Às vezes fico desorientado de tanta incompletude (não daquela que nos motiva a buscar. Mas da que me faz ficar sentado num tamborete com a boca abestalhada cheia de dentes à espera do nada)... Já estava com as retinas fatigadas e ofuscadas deste tempo de tamanha definição, luz intensa... As paisagens, finalmente, sofrem a influência de tons acromáticos; quiçá sentirei falta das texturas impiedosas no solo sofrível.

As veredas do finado Rio já estavam esbaforidas, lânguidas e enrugadas de tanta solidão... Os entulhos do capital, da sociedade plástica, descartável, roubaram a dinamicidade do que antes era Rio e transformaram-no em lama. O Ouricuri é um Ente morto, jaz distante, embora vivo entre nós... Eu, por exemplo, moro além Ouricurí, transito diariamente por sua margem inútil, habitada e abandonada a Deus dará, acompanhei toda a preparação para receber este Ente que vem dos céus... Há até rua com o nome dele: Ouricuri, Ouricurizinho (tom piedoso)... Coisa que, de acordo com a legislação, só a defunto diz respeito (pretérito mais que perfeito). A morte é o momento de santidade e fama. Faz-se mister morrer às vezes... Pena que poucos conseguem ressurgir, ressuscitar (mesmo estando vivo).

Foto: Cristiane Lautert Soares
(http://incontinencialiteraria.blogspot.com.br/2009/10/tempo-para-chuva-varal-sem-roupa.html)

O tempo de imprecisão, enfim, aproxima-se... A imensidão azul do céu disputa espaço com a morbidez das nuvens de chuva, que ameaçam despencar, conquanto hesitem cair. Como de costume, antes que a paisagem se desmanche em pinceladas acromáticas, inicia-se o rito para receber o Ente mnemônico, o Rio etéreo. As veredas foram alargadas... Os entulhos retirados; isso tudo a pés enxutos. Homens são engolidos pelo limbo secular por onde transitava o formoso Rio das palmeiras – ribaltas de pássaro cantador. Rio que banhou tantas histórias...

Tudo pronto!!!! Então, soberano, Ente dos entes, ele ressurge epifanicamente dos céus e, desfaz, alinearmente, o processo que o extinguira. Consubstancia-se em Rio poderoso: o Ouricuri do Nelson, da Ponte do Pau Grosso, do Tubão da Barão e tantos outros balneários... Contraria o processo de valinização... (que sem demora o furtará de nós outra vez).


Vem Ouricuri!!!! Leva a saudade e lava a poeira de nossas retinas cansadas. Mesmo sem tocar tuas águas para o mar, conduz nossas montarias a Capanema de matas menos azaradas... A Capanema que repousa nalgum lugar secreto/sagrado/encantado a espera dos filhos seus... A Capanema onde tuas ininterruptas águas douradas transcorrem sem cessar, sem as barreiras de concreto corruptível, forjadas com o teu ouro branco, que extraem do teu seio e deixam um grande vazio. A Capanema que não te soterrou, nem te transformou em vala sem palmeiras... A Capanema que não demoliu a própria história... A Capanema... Capanema... Caa... Mas sem demora, antes que voltes a ser vala: valha-nos... filhos teus, sem correnteza para transcender a inércia desta terra que dizem ser Capanema...

FOTO: HADSON DE SOUSA

FOTO: HADSON DE SOUSA


FOTO: HADSON DE SOUSA


FOTO: HADSON DE SOUSA
FOTO: HADSON DE SOUSA