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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

(DES)POLEMIZAR



Sempre gostei da expressão clichê “deixa a poeira baixar”... Ela exige de nós uma pausa diante de uma situação que pode ser desagradável, caótica. Exige que deixemos de lado os impulsos, as paixões, e analisemos com racionalidade (no sentido de crítica e reflexão). Em muitas situações da vida precisamos deixar as paixões de lado para podermos nos posicionar diante dos fatos do cotidiano, das polêmicas, mas não é bem assim que agimos. Em especial nesse século em que vivemos na sociedade da imagem (estática ou dinâmica), do “vigiar e punir”.

Nessa sociedade os fatos tornam-se espetáculo acessível a todos.  Em especial aqueles que podem evidenciar aquilo que pode ser considerado uma mazela social. Somos o tempo inteiro vigiados e levados aos tribunais da cultura, habitados por deuses que necessitam, antes de tudo, culpabilizar alguém. As câmeras estão por todo lado... Engana-se aquele que pensa que não está sendo vigiado...

Tive o desprazer de assistir na mídia televisiva essa semana reportagens patéticas que discutiam sobre vídeos produzidos por alunos (os deuses que necessitam vigiar e punir) de escolas públicas de Capanema. A falta de pauta da mídia idiotizada idiotizante torna polêmica o dejavu, o que outrora não era tornado objeto de consumo para alimentar a carnificina. A falta de fundamentação da mídia para se posicionar diante dos fatos evidencia-se quando a única saída é o olhar maniqueísta. Como a mídia nunca foi e nunca será imparcial, resta a ela julgar e dar o veredicto final com as lentes fascistas do certo e do errado (e nem quero discutir sobre o jogo medíocre de conseguir mais audiência, do sensacionalismo, da idiotização).

Meus ouvidos sedentos não ouviram nenhuma análise com teor crítico-reflexivo, que vislumbrasse os fatos além dos fatos ou a questão histórico-social que torna acessível os fatos. Chega de culpabilizar!!! Nem a escola nem a família são culpadas... A violência e o sexo são históricos...
Quanto à violência, Lembrei-me da época que estive na escola básica como aluno. A violência era muito mais latente. Ficou marcado na minha memória o enunciado que anunciava que no final aula haveria espetáculo circense, às vezes sangrento: “Te pego na saída”... Mas quem viu, viu!!! Quem não via tinha que de se contentar com as narrativas sobre o fato. E isso no máximo ia parar na diretoria da escola...

Quanto ao sexo, recordo-me de inúmeros episódios que envolviam esse fato à época de escola. Quando voltei pra escola como professor, também ficava assustado com algumas narrativas acerca das orgias infanto-juvenis no ambiente escolar ou envolvendo o nome da escola indiretamente; os famigerados deveres de casa, feitos em grupo, e o leitor já imagina o que acontecia, mas nada de vídeos e fotos sendo compartilhadas por todos. Longe das pseudo-concepções moralistas, o casal pecou ao escolher o local inapropriado (falta de respeito com o espaço escolar, isso sim é imoral) e ao esquecer dos olhos cinematográficos sedentos por flagrantes dessa natureza. Ao invés de filmar para punir expondo nas redes sociais era suficiente comunicar à coordenação da escola que tomaria as medidas necessárias, não?                       
Antes de julgar e condenar pare para refletir... Vivemos um “Big Brother” da vida privada, que pode torna-se pública. Só que não somos premiados com um milhão de reais, mas podemos ser tornados o lixo descartável da sociedade... Hoje, infelizmente, todos estamos suscetíveis de virar polêmica e  podemos ser vitimados pelo júri dos deuses populares com as perspectivas medíocres que lhes convém, pautadas em duas possibilidades únicas: certo e/ou errado... Fica o aviso: ATENÇÃO!!! VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO: JULGADO, CONDENADO E PODE SER POLEMIZADO!!!!  Ops, esqueci de fechar a janela enquanto escrevia...


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

GAME OVER




Uma das virtudes, sim... considero uma virtude, que mais me impressiona no ser humano, sem ressalvas, é a criatividade... O poder de redimensionar tudo aquilo que lhe é imposto, que insiste em furtar-lhe o que nomeiam de “reflexão”; e que poderia ser nomeado de inquietação, todavia, prefiro batizar de indigestão... Há muita gente que vive um empachamento perene. Nem tomando solda caústica conseguiria diluir tamanho “bolo” de amalgama no estômago. Esses sujeitos fazem valer a massa cinzenta fonte de pensamentos, de onde brotam as mais inusitadas, e porque não, excêntricas ideias. Por outro lado, há aqueles que vivem um eterno desjejum dos “fast foods culturais”. Daqueles pacotes convencionais mágicos que nos tornam “seres dóceis”, ou melhor, domesticáveis e, nos furtam o poder de criar, de pensar.



Ideia é algo que está diretamente relacionado à criatividade, que na atualidade tronou-se artigo de luxo. Um mercado bastante lucrativo, para os que se dão o luxo de pensar... As pessoas vestem ideias, calçam ideias, comem ideias, leem ideias, dirigem ideias etc. etc. etc. E, sobre vestir ideias, outro dia, numa das escolas em que trabalhei, um colega professor me fez refletir, vestido com uma ideia que colidia com um pacote cultural que é embrulhado com um papel que promete felicidade preventiva. Ele vestia uma espécie de caligrama, estampado numa camiseta. “Camiseta??!!”, o leitor pode ter se perguntado. Nada de novo, é verdade, porém o caligrama instaurava o novo...




Como todo caligrama, a estampa era composta de imagem e palavra. Só que imagem e palavra, diferentemente do que se espera de um caligrama, não estavam em consonância, não remetiam ao que é convencionalmente cristalizado/aceito socialmente. A imagem de um casal de noivos, com todas as pompas, como manda o script, os ditadores costumes, foi totalmente redimensionado para uma construção inteligentemente subversiva. A expressão abaixo da imagem era: GAME OVER. No primeiro momento foi inevitável o riso... Riso com tom de prazer, contemplativo, crítico, sarcástico, satírico... Logo em seguida o silêncio da reflexão (e à época eu era casado). Depois veio o clichê necessário para ocasião: Quanta criatividade!!!! (Que nada tem que ver com originalidade).
Sinceramente, o GAME OVER tornou o caligrama perfeito para a realidade de muitos casais. Casar numa cultural egológica como a nossa é o FIM DO JOGO – tradução adequada à situação. Do jogo Eu-Tu... que deveria resultar no “NÓS”. No uma só carne. No cúmulo da cumplicidade... Todavia na cultura do Eu, casa-se para ser feliz, não para fazer o Outro (Tu) feliz. Há até os que repetem a máxima: “Casamento é assim: alguém tem que se anular...”. Daí, o Outro que se dane... Casamento ou GAME OVER??!!... Talvez seja um dos motivos que leva tanta gente a optar pelo fim definitivo de tentar o GAME, ao invés do até que a morte os separe... (Alguns infelizes, no ápice da loucura, adiantam esse processo, “com requintes de crueldade”)... Aos que vivem a ditadura do Eu, sob à égide da infelicidade, desejo a vida: GAME OVER... E seja feliz!!!

(CRÉDITOS DAS IMAGENS: GOOGLE IMAGENS)

sábado, 10 de março de 2012

OURICURI: O RIO ETÉREO...


GOOGLE IMAGENS

Enfim, depois de muitos dias de expectativa, pude/consegui tecer esta crônica (ou sei lá que gênero...), que desejei ardentemente... Foi um período desértico... De longos e intermináveis dias de sol a pino. Tudo seca, tudo seca... Até a mais indelével paciência desidrata. Não sei como resisti ao processo de calefação. Nem a lama escapa... Talvez metade de mim tenha se esvaído. Às vezes fico desorientado de tanta incompletude (não daquela que nos motiva a buscar. Mas da que me faz ficar sentado num tamborete com a boca abestalhada cheia de dentes à espera do nada)... Já estava com as retinas fatigadas e ofuscadas deste tempo de tamanha definição, luz intensa... As paisagens, finalmente, sofrem a influência de tons acromáticos; quiçá sentirei falta das texturas impiedosas no solo sofrível.

As veredas do finado Rio já estavam esbaforidas, lânguidas e enrugadas de tanta solidão... Os entulhos do capital, da sociedade plástica, descartável, roubaram a dinamicidade do que antes era Rio e transformaram-no em lama. O Ouricuri é um Ente morto, jaz distante, embora vivo entre nós... Eu, por exemplo, moro além Ouricurí, transito diariamente por sua margem inútil, habitada e abandonada a Deus dará, acompanhei toda a preparação para receber este Ente que vem dos céus... Há até rua com o nome dele: Ouricuri, Ouricurizinho (tom piedoso)... Coisa que, de acordo com a legislação, só a defunto diz respeito (pretérito mais que perfeito). A morte é o momento de santidade e fama. Faz-se mister morrer às vezes... Pena que poucos conseguem ressurgir, ressuscitar (mesmo estando vivo).

Foto: Cristiane Lautert Soares
(http://incontinencialiteraria.blogspot.com.br/2009/10/tempo-para-chuva-varal-sem-roupa.html)

O tempo de imprecisão, enfim, aproxima-se... A imensidão azul do céu disputa espaço com a morbidez das nuvens de chuva, que ameaçam despencar, conquanto hesitem cair. Como de costume, antes que a paisagem se desmanche em pinceladas acromáticas, inicia-se o rito para receber o Ente mnemônico, o Rio etéreo. As veredas foram alargadas... Os entulhos retirados; isso tudo a pés enxutos. Homens são engolidos pelo limbo secular por onde transitava o formoso Rio das palmeiras – ribaltas de pássaro cantador. Rio que banhou tantas histórias...

Tudo pronto!!!! Então, soberano, Ente dos entes, ele ressurge epifanicamente dos céus e, desfaz, alinearmente, o processo que o extinguira. Consubstancia-se em Rio poderoso: o Ouricuri do Nelson, da Ponte do Pau Grosso, do Tubão da Barão e tantos outros balneários... Contraria o processo de valinização... (que sem demora o furtará de nós outra vez).


Vem Ouricuri!!!! Leva a saudade e lava a poeira de nossas retinas cansadas. Mesmo sem tocar tuas águas para o mar, conduz nossas montarias a Capanema de matas menos azaradas... A Capanema que repousa nalgum lugar secreto/sagrado/encantado a espera dos filhos seus... A Capanema onde tuas ininterruptas águas douradas transcorrem sem cessar, sem as barreiras de concreto corruptível, forjadas com o teu ouro branco, que extraem do teu seio e deixam um grande vazio. A Capanema que não te soterrou, nem te transformou em vala sem palmeiras... A Capanema que não demoliu a própria história... A Capanema... Capanema... Caa... Mas sem demora, antes que voltes a ser vala: valha-nos... filhos teus, sem correnteza para transcender a inércia desta terra que dizem ser Capanema...

FOTO: HADSON DE SOUSA

FOTO: HADSON DE SOUSA


FOTO: HADSON DE SOUSA


FOTO: HADSON DE SOUSA
FOTO: HADSON DE SOUSA

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

UMA CIDADE ENFEZADA...

É isso mesmo... Capanema é uma cidade enfezada. E não me refiro aos infindos colóquios sobre políticas públicas, ou melhor: POLITICAGEM (De novo não!!!)... Até porque, as discussões acerca dessas questões não se limitam aos bares, comércios, feiras, restaurantes, salões de beleza, oficinas mecânicas, esquinas da vida etc. etc. etc., ecoam além do espaço geográfico que constitui o “Mato Azarado”... Digo isso não por ser, exclusivamente, do contra, muito menos por questões partidárias, pessoais. Todavia, já presenciei/assisti/ouvi nos municípios vizinhos, muitos comentários enfezados sobre a politicagem no nosso município. Basta pegar um táxi de qualquer lugar do nordeste paraense com destino à essas terras panemas para constatar... A primeira pauta da conversa: a POLITICAGEM de Capanema... Eita terra sem sorte!!!! 

GOOGLE IMAGENS
Contudo, quero discorrer sobre o que deixa as ruas de Capanema e os transeuntes/pedestres, realmente, enfezados. Quem caminha diariamente pelas principais vias da nossa cidade sabe muito bem do que se trata: das FEZES que ornam e deixam um odor nada agradável pelas ruas... Deve-se olhar bem por onde se anda, ou é quase impossível não ficar ENFEZADO (metafórica e literalmente falando). FEZES à vista!!!! Elas estão por toda parte e no plural: nas calçadas, no meio da rua... Quem opta por andar pelas calçadas tem de desviar das FEZES do “melhor amigo do homem”. Ao atravessar as ruas deve tomar cuidado com as dos cavalos... Sorte se elas estiverem no estado de húmus: sequinhas... Nesse caso dá até para sair ileso, menos ENFEZADO.

GOOGLE IMAGENS
Apesar de ter caído em desuso, FEZ é o singular de FEZES (Desculpe-me o leitor por tratar de um assunto tão escatológico. Tape as narinas... imagine que está andando pelas ruas da cidade). De qualquer forma, não daria para usar o vocábulo no singular ao referir-se às ruas de nossa cidade. Já ENFEZAR é ação de recobrir, encher, alguém/algo com FEZES. É o que acontece com muitos dos que necessitam andar pelas ruas da ENFEZADA Capanema... Alguns etimólogos explicam que a origem da palavra ENFEZADO se dá à época da escravidão declarada. Os escravos eram obrigados, claro, a carregar baldes cheios de fezes dos seus senhores para despejar nos rios... No traslado, ficavam ENFEZADOS, cheios de fezes, pois os baldes transbordavam – haja estômago...
 
GOOGLE IMAGENS
Outro dia, resolvi fazer um programa diferenciado com a família. Sugeri que fôssemos à praça (E os senhores sabem que não temos muitas opções. A Belle Époque foi injusta com os capanemenses). Escolhemos a “Praça dos Lions”. Nosso intuito era ter um momento de lazer, diversão, nada mais... As crianças, animadas, levaram os patinetes e os patins. Resultado: voltamos para casa, literalmente, ENFEZADOS... A praça estava totalmente ornada com FEZES de cachorro, dava para carregar em baldes. Não preciso narrar o que aconteceu no decorrer da brincadeira, nem descrever o estado dos brinquedos e dos usuários. O momento de relax (Com o perdão da palavra) terminou em... MERDA!!!! (No sentido que preferirem).

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

“FACES DA ALEGRIA”: 19º FESTIVAL DE DANÇA ACADEMIA "CHIARA RÊGO"


No senso comum, a ALEGRIA é sempre um momento de explosão, exteriorização desse sentimento... Se pensarmos numa representação pictórica para esse evento, sem dúvida, construiremos de imediato uma escala policromática. Nesse âmbito ser ALEGRE é ser multicolor. De fato, o que fica negritado nesta concepção é apenas uma das “FACES DA ALEGRIA”. Aquela que ofusca as outras FACES dessa moeda... Se ao invés meditássemos: O que nos dá o parâmetro, a medida, da ALEGRIA? Que especificidades são necessárias para ser ALEGRE? As que são deixadas de lado não seriam o termômetro que nos daria a noção deste sentimento?... Estamos diante do mesmo jogo das dicotomias: luz e escuridão, som e silêncio e tantas outras que algumas culturas tentam ejetar das nossas mentes... Afinal, quase tudo na vida é assim: um grande paradoxo... Ninguém é verdadeiramente ALEGRE se ainda não sentiu “na pele” o que é tristeza...


ENCANTO

Essa foi uma das preocupações da bailarina e coreografa Chiara Rêgo ao transpor para o palco as variadas “FACES DA ALEGRIA” – XIX Festival de Dança desta escola que continua a fazer história no nosso município; realizado no auditório do colégio São Pio X no dia 18 de dezembro de 2011. Para comemorar um ano de grandes realizações, conquistas e premiações no universo da dança, a Academia “chiara Rêgo” realizou, mais uma vez, um belo espetáculo. Aproximadamente duas horas e meia de muita dança, luz e cores. Vinte e duas coreografias executadas por mais de cem bailarinos(as) (este ano a escola “Dance & Cia” de castanhal fez uma participação especial). Isso tudo, numa ousada e desafiadora tradução de um dos sentimentos mais cobiçados na contemporaneidade. E como declara a idealizadora da montagem “FACES DA ALEGRIA”, no poema que abriu o espetáculo: “Alegria é profundeza de espírito, é paz, emoção”.

CUMPLICIDADE
 Além do renome no cenário da dança, dos louros obtidos em mais de vinte anos de trabalho e dezenove de festival, a alegria maior da Academia “Chiara Rêgo” é de ter formado, durante todos esses anos, um público fiel e apreciador da arte da dança... A professora Chiara ao agradecer a todos que realizam o Festival menciona: os pais, mães, responsáveis, bailarinos e bailarinas que deram vida às coreografias, patrocinadores e todos que apoiam o evento... Enfim, abre espaço e faz um agradecimento especial ao público: “Afinal eles são importantes mantenedores deste trabalho no nosso município”, declara com ALEGRIA.

JESUS ALEGRIA DOS HOMENS

EXTASIAR

CONQUISTA

CONQUISTA

ECLIPSE

NOVO ESTILO

DANÇA DO VENTRE

FORÇA DO HIP-HOP

domingo, 8 de janeiro de 2012

“PODEM SOLTAR FOGUETES”: A FESTA DA CONTRACULTURA...

GOOGLE IMAGENS

Nesta última quarta-feira, fui surpreendido, pela manhã, com barulhos de foguetes, que irrompiam o silêncio da Alameda Mário kauate, Alameda dos opostos, onde moro... Os estouros vinham dos arredores; algum lugar próximo, pela intensidade do som. No fundo ouvia-se, também, uma voz, bastante tímida, que pelo ritmo, narrava uma lista. Sem saber o motivo da comemoração, fiz algumas deduções. A primeira que me veio à cabeça: "Estão fazendo algum protesto na Av. Barão de Capanema, palco principal da cidade... Algo nada dejavu no nosso 'Mato Azarado'". Como de costume, saí para resolver algumas coisas. Ir à UFPA era um dos itens do itinerário. Ao me aproximar do Campus I da UFPA, a surpresa...

O perímetro em frente ao Campus estava interditado, por uma causa bastante justa. Alunos da histórica Escola Maria Amélia de Vasconcelos reunidos comemoram a aprovação no vestibular da UFPA... E não eram poucos. Uma festa completa, um verdadeiro entrudo: trio elétrico, fogos, ovos, trigo e muita animação. E a todo o momento, mais pessoas agregavam-se à comemoração... Quando participamos ou acompanhamos o árduo processo para entrar numa universidade pública, sabemos o quanto é emocionante e gratificante ser aprovado. Daí sempre é motivo de fazer festa...


GOOGLE IMAGENS

Quem já passou por isso enquanto estudante sabe... A festa dos outros é sempre motivo para rememorarmos a nossa festa, a emoção daquele momento. Contudo diante daquela Festa, além dessas sensações, a minha emoção maior era de vislumbrar a “Festa da Contracultura”... A Festa daqueles que são previamente subjugados a não ter acesso ao nível superior, que carregam consigo um prognóstico histórico de que são atrasados nos estudos e tampouco conseguirão concorrer à uma vaga (tão importante e vital), pois são abortados pelo discurso da “elite intelectual”... Minha adesão maior à essa festa era por esse motivo. Comemorei a reação à essa cultura...

Trabalhei um curto período na escola público, em cinco municípios do nordeste paraense, dentre eles o “Mato Azarado”, e não conseguia entender a falta de perspectiva dos alunos do Ensino Médio, quanto ao ingresso num curso de nível superior. Pra eles era algo inacessível... Sempre que eu roubava um pouco do tempo das aulas para falar de vida, momento que considero de suma importância, aproveitava e sondava os porquês daquela concepção tão entranhada no discurso deles.

Em uníssono eles diziam: “Nosso estudo é atrasado... O ensino público é atrasado...”. É um discurso histórico e que ejeta qualquer possibilidade de memória de futuro; não só a do vestibular. Ao que eu revidava: “Como atrasado? Vocês não têm professores? Os professores de vocês não têm qualificação de nível superior? O que atesta a incompetência de vocês?”. Nunca aceitei nenhuma justificativa. Meu discurso era/é contra essa cultura. Aproveitei a Festa e joguei ovo e trigo, não nos alunos, mas na cultura da exclusão, do descaso, da indiferença...

 
(Hadson de Sousa)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

FEITO PIPA...

Meninos soltando pipas, 1948 (PORTINARI, Cândido)
Céu de anil, límpido, poucas nuvens ousam despontar e ocultar este tempo de luz intensa que reaviva e dá cores à paisagem, retarda a boca da noite. Cenário perfeito para ela voar soberana ao vento da mais sincera irresponsabilidade..., na mais irracional liberdade. Liberdade de imaginário pueril. É esta sensação inocente que atrai, muito mais que o colorido da pipa em contraste com os nuances de azul da imensidão do infinito. Liberdade nacarada no infinito azul da paisagem furta-cor: a pipa voando no céu... O céu azul como aquilo que nos envolve sem prender, todavia sempre nos faz transcender...


Pipas, 1941  (PORTINARI, Cândido)

Essa louca sensação se desfaz quando deixamos de olhar para o alto e, xinamos nos limites do finito, do aqui embaixo. Percebemos, então, que ela está por um fio. Um fio que o firmamento esconde como esconde o véu formado pelas gotas da chuva de verão, percebido somente a poucos metros do chão. Liberdade por um fio, que de tão indefeso e manipulador precisa ser passado num pó cortante misturado a uma espécie de grude. É o fio com cerol que dilacera e nos ajuda a sentir a sensação de liberdade segura. Pois ela pode ser perturbada, cortada, pela liberdade de outrem.
    
Meninos Soltando pipas, 1947  (PORTINARI, Cândido)
Daí, tornar-se-á liberdade desacorrentada em queda quase livre. Pois, mesmo antes de cair é tão desejada, cobiçada, que às vezes nem chega a cair. Logo, desprendida pode enroscar-se ao fio de outra liberdade, num emaranhado arado ou, pelo contrário, ao cair por terra, deve acorrentar-se às mãos de um novo destino, que forja uma nova sensação inocente ou, livremente, ressuscita àquela vetada pela indefinição de um tempo de arrebol, pela noite que subsume o colorido e a torna, se insistente, cruenta liberdade... impregnada de reveses.


Meninos soltando pipas, 1947  (PORTINARI, Cândido) 
Minha liberdade nunca mais sentiu o prazer de um dia de sol, que faz irromper todas as cores na seda e esconde o fio do existir... Não me permitiu mais olhar para o alto e sentir o infinito que me fazia transcender, flanar, xinar leve nos braços da paz azul... Não tenho mais aquela estrutura leve com pele de seda ao vento. Ela está amarada a um fio inquebrável, mesmo contra a lei que quer torná-la livre liberdade vulnerável. O fio que antes eu descaia sem desprender e sumia na imensidão do meu devaneio de luz, não me permite nenhum voo. Nem ensinar a brincar de liberdade eu sei... Careço do céu de Brodowski, cheio da liberdade dos meninos de Portinari.


(Hadson de Sousa)