Pesquisar este blog

domingo, 23 de agosto de 2009

CULTURA POPULAR: SABEDORIA DE UM POVO...

 
Sem dúvida, “Em terra de cego quem tem um olho é rei.” Ainda bem que “Quem com ferro fere, com ferro será ferido...”. Melhor ir de devagar, pois “A pressa é a inimiga da perfeição...”. Seja grato: “Cavalo dado não se olha os dentes...”. Metaforicamente, “A ocasião faz o ladrão...”. Apesar dos pesares, “Quando um não quer, dois não brigam.” A verdade tem que ser dita: “Casa de ferreiro, espeto de pau....”. Em tempos de pandemia, “Prevenir é melhor do que remediar...”, pois “O seguro morreu de velho...”. Infelizmente, “Cada povo têm o governo que merece...”, no entanto “Errar é humano, permanecer no erro é...”, melhor não dizer. Quanta sabedoria... Filosofia popular. Quem nunca ouviu ou falou uma dessas expressões, cristalizadas na sociedade? “Ah, a minha avô/bisavô dizia...”. “A mamãe/papai sempre me falou estas verdades...”.


O imaginário de um povo pode ser considerado uma gigantesca enciclopédia oral, onde estão registrados os ditados populares, folguedos e festas, os brinquedos e brincadeiras, as crendices, a medicina caseira, a culinária, os mitos, os contos, as (par)lendas, superstições, as cantigas, as danças etc. etc. etc. Todo este conhecimento foi nomeado de “FOLCLORE”, pelo antropólogo inglês William Jhon Thoms - grande estudioso e admirador das manifestações populares de diversos povos. No dia 22 de agosto de 1846 ele publicou um artigo, com o título Folk-lore, na revista inglesa The Athenaeum. Daí, reverenciarmos neste dia, em todos os lugares do mundo, a cultura popular. A expressão FOLCLORE, etimologicamente, condensa dois vocábulos ingleses: FOLK= Povo e Lore= Conhecimento; portanto, conhecimento (anônimo) de um povo, tudo aquilo que é inventado pelo povo e transmitido, oralmente, entre pessoas e gerações. Essa transmissão é responsável pela perpetuação e alteração destes conhecimentos e, é chamada de tradição.


Falar do grande mosaico que compõe o FOLCLORE de um povo desemboca em outra expressão, sobejamente utilizada, o clichê: CULTURA. A origem dessa expressão encontra-se na língua latina. O radical da palavra é o verbo latino "colo", que tem o sentido original de "cultivar". O vocábulo latino "cultus" (particípio de colo) tem, portanto, inicialmente o sentido de cultura da terra. O verbo assumiu o sentido de "cuidar de", "tratar de", "querer bem", "ocupar-se de", "adornar", "enfeitar". Depois o sentido de "civilização", "educação"; e, também, o sentido de "adorno", "moda", "decoração". No léxico da língua portuguesa, talvez, não haja outra palavra com sentido tão latu como CULTURA; nossa vertente adotou as acepções atribuídas pelos alemães: cultivo de hábitos, interesses, língua e vida artística de uma nação. Assim, engloba toda cosmologia social.


Quem sabe daí a confusão pertinente ao uso do termo CULTURA. É comum ouvirmos alguém ratificar que fulano é “culto” e/ou evidenciar que beltrano não tem cultura. Também, no senso comum, CULTURA está, única e exclusivamente, conectada com as manifestações artísticas... Também, surge outro equívoco, o de pensar numa sobreposição de culturas: achar que uma cultura é melhor e/ou mais elaborada que outras – “pseudo-barrismo”. Pior ainda, se tudo isso levar ao preconceito contra certas culturas, ao que, comumente, recebe o nome de “xenofobismo” - qualquer forma de preconceito cultural, grupal (de grupos minoritários) ou racial. Na contemporaneidade, melhor seria pensarmos numa intertroca, numa “colcha de retalhos” culturais... As culturas não são estáticas, perdem e ganham características ao contatarem-se com outras. Não somos, em parte, a mesma sociedade dos séculos anteriores, somos? Uma releitura talvez...


“VIVER AS CULTURAS!!!”



No mundo “global” com o desenfreado fluxo de pessoas e informações, vírus também, não dá para pensar numa cultura étnica, homogênea. As culturas resultam de um escambo, de um processo de aculturação; diferente, claro, do que acontecia no século XV – extermínio de muitas culturas pelo processo de colonização. Deve ser levado em conta que tais mudanças são necessárias. Porém, em alguns casos, podem levar ao empobrecimento ou perda de identidade. O contato com outros hábitos, através das migrações, da mídia e mais fortemente da Internet levam a vulnerabilidade de culturas. A Organização das Nações Unidas – UNESCO assumiu a responsabilidade de dirimir casos de desaparecimento de expressões culturais frágeis. Para tanto, orienta os Estados-membros a preservar seu patrimônio cultural imaterial, determinando parâmetros para proteção da cultura tradicional e do folclore.




“Brasil! / Meu Brasil Brasileiro / Mulato inzoneiro / Vou cantar-te nos meus versos / Brasil, samba que dá / Bamboleio, que faz gingá / O Brasil do meu amor / Terra de Nosso Senhor...”.


Meu Brasil brasileiro?... Nosso Brasil é mais que brasileiro. Nossa cultura é resultado de uma compilação de costumes, um verdadeiro sincretismo cultural. A priori foi o choque entre duas culturas díspares: portugueses e índios; depois os africanos, compondo, assim, a tríade basilar. A posteriori veio a colaboração dos holandeses, espanhóis, italianos, alemães, japoneses e árabes etc. O resultado deste processo de formação étnica, cultural e social é nossa pluralidade cultural. O embaixador do Brasil junto à UNESCO, Antonio A. Dayrell de Lima, esclarece que “‘diversificar é preciso’: a diversidade cultural é, em um certo sentido, o próprio reflexo da necessidade abrangente da múltipla diversidade de vidas na Natureza, a fim de que essa possa como um todo renovar-se e sobreviver. A cultura é a ‘natureza’ do homem. A diversidade cultural pode ser vista, por conseguinte, como a nossa ‘biodiversidade’(...)”. Destarte, ele nos alerta à preservação, “se não quisermos estiolar em um mundo globalizado desprovido dos conteúdos, valores, símbolos e identidades que nos dizem intimamente respeito.” Seria de bom alvitre e grandiloquente “viver as culturas”, respeitá-las e preservá-las, ao invés de pensá-las numa escala hierárquica... Nossa identidade evidencia-se e concretiza-se na diferença com outras. Dessa forma, como somos todos cultos, o slogan é: VIVA AS DIFERENÇAS... VIVA AS CULTURAS... VIVA O FOLCLORE!!!!
(HADSON DE SOUSA)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

CAPANEMA DE TODOS OS SONS: BANDA DDT



Tem pianista clássico? Tem. Tem tenores e sopranos? Tem. Tem “voz e violão”? Tem. Tem a melhor banda fanfarra do Brasil? Tem. Tem grupo de “metal e Sax”? Tem. Tem o “pai do Techno-Brega”? Tem. Tem o lirismo das serestas? Tem. Tem lamento Sertanejo? Tem. Tem “forrozeiros”? Tem. Tem “som do barzinho”? Tem. Tem banda de “Pau e Corda”? Tem. Tem “Rock and Roll”? Claro que tem... Com a BANDA DDT, num estilo como ninguém...


É isso, da música erudita à música popular Capanema tem. No entanto, queremos evidenciar, sobretudo, o talento idiossincrático, o “Rock and Roll” da BANDA DDT – DESTRUIDORES DE TÓQUIO, produzido no "Mato Azarado". Pelo nome inusitado, batismo recebido de um amigo da banda, o poeta Lin-cão (lincol leandro), já dá para perceber a irreverência e a personalidade deste grupo, constituído pelos amigos Alex Lima (baixo e voz), Nazo Glins (guitarra e voz) e Messias Lima (bateria), que exporta talento Brasil a fora. Nazo Glins, compositor, vocalista e diretor da banda, ratifica e diz: “(...) no mundo globalizado originalidade é tudo. Tentamos vários nomes, mas todos já tinham, no mínimo, duas bandas usando (...). Então, o Lin-cão apareceu com essa extravagância em forma de nome, tirado de um ‘RPG’ japonês. Jogamos no ‘Google’ e não deu outro; até hoje somos os únicos com a coragem de usar um nome tão absurdo como este. No começo até nós estranhávamos, mas hoje virou nossa marca.”
Os DESTRUIDORES DE TÓQUIO, na verdade pretendem destruir o marasmo do célebre “Mato Azarado”, Capanema, onde moram e ensaiam, desde o inicio do grupo. A estréia no ano de 2002, claro que nada convencional, foi num barzinho gay, próximo ao cemitério da cidade, em um dia de finados. Depois, com equipamentos sucateados, a banda pegou estrada rumo a outros interiores, influenciados por Stooges, Kinks e Altemar Dutra, apresentando-se nos mais sórdidos palcos: “puteiros, botecos, inferninhos e festas de Halloween fuleiras...” Então, com muita experiência, os DESTRUIDORES partiram com destino a grande metrópole do norte do país, a capital da Amazônia. Belém foi demolida pela BANDA DDT...

Na era da tecnologia da informação e comunicação podemos dar uma volta ao mundo sem sair de casa e, a BANDA DDT, que tem vários trabalhos na bagagem (“A Celebração da Autodestruição” – 2006 (Cd demo independente); “Música para suicídio” – 2007(independente distribuído pela “Ná Music”)) soube aproveitar muito bem isso. No segundo álbum, após postar em um site de vídeos, “YOUTUBE”, trabalhos da banda, veio a surpresa e o reconhecimento a nível estadual; um dos trabalhos foi contemplado e ficou entre os dez melhores vídeos paraenses na mostra “Curta Pará” (Prêmio “Na Figueiredo” ao vídeo-clipe paraense, 2007 e 2008). A partir daí surgiram as oportunidades. A excentricidade do rock da “terra do cimento”, uma compilação de punk com pop rock, caiu no gosto nacional.


À luz de grandes nomes no gênero: Velvet Underground, Neutral Milk Hotel e Arnaldo Baptista, o Grupo deu uma maneirada no som, adquiriu equipamentos de qualidade e descolou melhores apresentações. Foi por duas vezes consecutivas finalista do festival “CCAA Fest”, tendo assim suas músicas na coletânea do evento; tocou no festival “Memorial do Rock”, promovido pela TV Cultura do Pará; produziu e organizou a primeira e segunda edições do festival “Nada de Cover” (2007 e 2008). Tudo isso, sem, evidentemente, perder a veia “lo-fi” (produção caseira) e nem abrir mão dos temas preferidos de suas letras: “Sadomasoquismo e outras perversões sexuais, violência doméstica e estado de consciência quimicamente alterada. (...) bebemos na fonte dos ‘malditos’, artistas e bandas que nunca fizeram muito sucesso, mas que marcaram a história, como: Sérgio Sampaio, The Zombies, Ronnie Von (fase maldita), Lou Reed, Igg Pop e outros. Para fazermos música como naquela época (60 e 70) adquirimos equipamento ‘vintage’ (instrumentos clássicos e antigos); equipamentos novos, porém fabricados como antigamente, seguindo todas as especificações técnicas da época. Minha guitarra é um modelo de 1956, uma reedição que atualmente está fora de linha; o baixo do Alex é um modelo de 1969, tudo isso para conseguir um som original e atlético.”, esclarece Nazo Glins.

Com a proposta de devolver ao rock o seu espaço na história, os DESTRUIDORES não querem chocar, afrontar e/ou derrubar tradições. Eles adotaram uma postura meio “neodadaísta-niilista-expressionista”, de não falar de políticas públicas, religião, luta de classes e nem divulgar a opinião deles, concernente a esses assuntos. Portanto, visam o rock como arte, poesia, lirismo, música de protesto, comungando, assim, com grandes nomes: Bob Dylan, Joan Baez, Secos e Molhados. A voz da banda: “É só música...”. Recentemente a DDT foi uma das dez selecionadas pelo site “Trama Virtual” no concurso “Peligro/Trama” e, uma das cinco bandas escolhidas pelos internautas para tocar no “Milo Garage” em São Paulo, na festa da “Peligro”; também, foi destaque no festival “Se Rasgum” (o mais importante evento de rock do Norte do País).


A BANDA DDT agora se prepara para divulgar seu novo álbum, intitulado “O Avesso e o Avesso”: uma obra completa que flerta com o Romantismo e o Simbolismo, com o cinema de vanguarda europeia, com o Expressionismo alemão, com o samba canção e com a poesia marginal; o primeiro por um selo, o “Ná Records”, que já lançou grandes nomes da cena independente. Assim, aludindo a outro projeto, também capanemense, “Santo de casa não faz milagre, faz arte...”, que visa apresentar o artista à sua terra natal, o “Mato Azarado”, a “VITRINA CULTURAL” teve a honra de apresentar para o capanemense “ver e ouvir”: BANDA DDT – DESTRUIDORES DE TÓQUIO. A “lendária terra do cimento”, Capanema, nunca mais será a mesma, eles irão “lapidar” o concreto grotesco e frio e, transformá-lo em arte... “[N]Esse tal de Roque Enrow! / Um planeta, um deserto / Uma bomba que estourou / Ele! Quem é ele? / Isso ninguém nunca falou! / Ôh! Ran!...”


+ INFORMAÇÕES:


sexta-feira, 14 de agosto de 2009

“ESPELHO, ESPELHO MEU...”: SOMOS AQUILO QUE VEMOS???!!!

Na sociedade global a imagem é um bem de primeira necessidade, coisa de suma importância; somos a era do símbolo, do ícone, da tecnologia, do “Photoshop”, da cirurgia plástica... Daí, paradoxalmente, o cuidado/descaso com a autoimagem e/ou a saga para suprir um padrão imposto pelas mídias. A beleza sempre foi tema de infindas discussões; Para Platão, o belo é o bem, a verdade, a perfeição; tem existência própria, desvinculado do mundo sensível, residindo, assim, no mundo das idéias. Para esse filosofo o belo independe do conceito dado pelo homem. Contrário a Platão, Aristóteles defende que o belo seja inerente ao homem, não pode estar desvinculado daquilo que é sensível ao homem. S. Tomás de Aquino, na idade média, descreveu uma das mais concretas e louváveis reflexões acerca da beleza: “aquilo que provoca um conhecimento gozoso”, em outras palavras, o prazer que nos é provocada pelo belo; visto de uma ótica individual.

Em todas as épocas e sociedades atribui-se conceitos ao belo, que vêm alterando-se de acordo com o tempo, espaço, culturas etc. Na antiguidade clássica o belo estava ligado à ideia de simetria (proporção) e, ter um corpo perfeito era sinônimo de saúde e virtuosidade: “corpo são em mente sã” (era o slogan). Na idade média os corpos rechonchudos (mais avantajados) eram sinônimos de virilidade, fertilidade, saúde e, também, status sociais; pobreza, doenças e incapacidade de ter filhos sadios eram somadas à magreza. Nesse período, devido o poderio da igreja, o belo, também, estava vinculado ao plano metafísico e, identificava-se com Deus (perfeição); Santo Agostinho, filosofo da época, ponderou: "As coisas são belas porque agradam, ou agradam porque são belas? Respondo sem vacilar: agradam porque são belas.". No renascimento o conceito de belo resgata a proporcionalidade da antiguidade clássica conectada, claro, à saúde. No século XIX a magreza começa a ser incorporada nos padrões de beleza. Claro que Estes padrões não eram massificados.
 
Opondo-se a tudo isso, chegamos ao modelo de beleza veiculado no século XXI, um arquétipo surreal e desumano, fruto da era da tecnologia da comunicação e informação: corpos delgados, longilíneos, esbeltos com algumas partes maximizadas, de pele branca, cabelos loiros e olhos azuis. Este padrão cosmopolita, globalizado, está associado, de forma explícita, ao consumismo e gera uma idealização desse tipo físico corporal, relacionando-o aos ideais de beleza, felicidade e ao poder de atração sexual; tudo isso é imposto, despoticamente, pelas mídias.

Segundo uma pesquisa recente, que envolveu homens e mulheres de 10 países (claro que elas vitimam-se demasiadamente), mais da metade dos brasileiros estão insatisfeitos com sua imagem e atratividade física. Estamos também no ranking de países que mais fazem plástica no mundo. Quantos não sacrificam a própria vida submetendo-se à ditadura do belo: casos e mais casos de morte no Brasil. “As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental”... Se Vinicius de Moraes estivesse vivo, talvez, ele repensasse este clichê.

Houve um tempo em que a ideologia “somos aquilo que comemos” era bastante amplificada na sociedade; buscava-se uma reeducação alimentar, alimentação antroposófica, com o intuito de ter uma vida mais saudável. Hoje, podemos ratificar, parodiando esse slogan, que “somos aquilo que vemos”; a imagem “photoshopada”, artificial, inorgânica é modelo venerável. Até o ciclo natural da vida já foi alterado, transposição do mundo virtual para o real. A síndrome de “Peter Pan”, negação ao envelhecimento, assola nossa sociedade; os especialistas em cirurgia plástica agradecem...

Então, o padrão de beleza contemporâneo é um protótipo natural, sinônimo de saúde, ou uma invenção tecnológica, virtual, surreal? Precisamos ter consciência corporal, respeitar o próprio corpo, as fases da vida, parar de pensar que somos bonecos de massinha ou uma imagem virtual que pode ser moldado e/ou “photoshopada” de acordo com tendências efêmeras, frívolas. Na sociedade do “fast food”, do expresso, do instantâneo, do transgênico, buscar um padrão de bem-estar do corpo com uma boa alimentação, associada à prática da atividade física, garantirá uma vida mais saudável em todos os sentidos e, isso refletirá na autoimagem. Deveríamos correlacionar o vocábulo BELEZA aos mesmos sentidos que eram dados na Grécia antiga (KALÓN): amor, bondade e justiça; ao primeiro, principalmente, pois, sobretudo, deveríamos ter amor próprio. Não à ditadura da beleza, porque, como canta Maria Rita, “Nem! / Toda feiticeira é corcunda / Nem! / Toda brasileira é bunda (...)”.

(HADSON DE SOUSA)