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quinta-feira, 21 de julho de 2011

FEITO PIPA...

Meninos soltando pipas, 1948 (PORTINARI, Cândido)
Céu de anil, límpido, poucas nuvens ousam despontar e ocultar este tempo de luz intensa que reaviva e dá cores à paisagem, retarda a boca da noite. Cenário perfeito para ela voar soberana ao vento da mais sincera irresponsabilidade..., na mais irracional liberdade. Liberdade de imaginário pueril. É esta sensação inocente que atrai, muito mais que o colorido da pipa em contraste com os nuances de azul da imensidão do infinito. Liberdade nacarada no infinito azul da paisagem furta-cor: a pipa voando no céu... O céu azul como aquilo que nos envolve sem prender, todavia sempre nos faz transcender...


Pipas, 1941  (PORTINARI, Cândido)

Essa louca sensação se desfaz quando deixamos de olhar para o alto e, xinamos nos limites do finito, do aqui embaixo. Percebemos, então, que ela está por um fio. Um fio que o firmamento esconde como esconde o véu formado pelas gotas da chuva de verão, percebido somente a poucos metros do chão. Liberdade por um fio, que de tão indefeso e manipulador precisa ser passado num pó cortante misturado a uma espécie de grude. É o fio com cerol que dilacera e nos ajuda a sentir a sensação de liberdade segura. Pois ela pode ser perturbada, cortada, pela liberdade de outrem.
    
Meninos Soltando pipas, 1947  (PORTINARI, Cândido)
Daí, tornar-se-á liberdade desacorrentada em queda quase livre. Pois, mesmo antes de cair é tão desejada, cobiçada, que às vezes nem chega a cair. Logo, desprendida pode enroscar-se ao fio de outra liberdade, num emaranhado arado ou, pelo contrário, ao cair por terra, deve acorrentar-se às mãos de um novo destino, que forja uma nova sensação inocente ou, livremente, ressuscita àquela vetada pela indefinição de um tempo de arrebol, pela noite que subsume o colorido e a torna, se insistente, cruenta liberdade... impregnada de reveses.


Meninos soltando pipas, 1947  (PORTINARI, Cândido) 
Minha liberdade nunca mais sentiu o prazer de um dia de sol, que faz irromper todas as cores na seda e esconde o fio do existir... Não me permitiu mais olhar para o alto e sentir o infinito que me fazia transcender, flanar, xinar leve nos braços da paz azul... Não tenho mais aquela estrutura leve com pele de seda ao vento. Ela está amarada a um fio inquebrável, mesmo contra a lei que quer torná-la livre liberdade vulnerável. O fio que antes eu descaia sem desprender e sumia na imensidão do meu devaneio de luz, não me permite nenhum voo. Nem ensinar a brincar de liberdade eu sei... Careço do céu de Brodowski, cheio da liberdade dos meninos de Portinari.


(Hadson de Sousa)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

CAPANEMA NO PÓDIO DA DANÇA


Nosso “Mato Azarado” está com sorte na dança... No início deste mês de julho, recebemos mais cinco premiações em um grande festival de nível internacional na capital do estado do Ceará, Fortaleza. Desta vez fomos ovacionados em um dos palcos mais importante do Brasil: Teatro José de Alencar. Sob o julgamento criterioso de grandes estrelas da dança, renomadas internacionalmente: Gisela Vaz (Goiás), Mariza Estrella (Rio de Janeiro), Wanderley Lopes (Paraná) e Guivalde Almeida (São Paulo).

A Academia de Dança Chiara Rêgo aumentou a prateleira da estante para ornar com mais cinco troféus: 2º lugar na categoria balé clássico livre infantil (não houve 1º lugar) – coreografia “Baile da Corte”; único grupo classificado em estilo livre infantil – coreografia “Capubalé”; único grupo classificado na categoria jazz juvenil – coreografia “Gangsters”; único grupo classificado na categoria balé clássico livre juvenil – coreografia “Nevasca”; único grupo classificado na categoria dança do ventre (solo adulto) – coreografia “Princesa Isis” (interpretada pela Prof.ª Chiara Rêgo). 

“Fiquei surpresa com os prêmios, pois o FENDAFOR é de um nível de dança muito elevado. Todavia, eles servem de bálsamo para o nosso trabalho, de gratificação aos nossos alunos, pais, mães e todos que nos acompanharam e sempre nos dão muito incentivo e apoio. Em especial para o município de Capanema, sempre muito bem representado pela arte da dança, em todos os festivais que participamos, mesmo sem o incentivo de políticas públicas que se equiparem ao nosso potencial artístico. Fico feliz quando as pessoas nos parabenizam pelo trabalho e perguntam de onde somos. Sinto prazer ao falar da nossa Capanema.”, declara a coreógrafa Chiara Rêgo emocionada com as conquistas da Academia.

Além desses troféus, a professora Chiara recebeu muitas congratulações, pelo trabalho da Academia “Chiara Rêgo”, de um importante nome da dança clássica no mundo, a professora Maria Clara (Belo Horizonte) – Maitre da Royal Academy of Dance no Brasil há 35 anos, jurada em vários concursos internacionais (Havana (Cuba) e Moscou (Rússia)) – e considera muito mais importante que os troféus: “Ser reconhecida e vista por esta gigante da dança, é realmente o melhor prêmio”, confessa.


Bailarina Chiara Rêgo premiada no FENDAFOR, na categoria Dança do Ventre.

Bailarinas da coreografia “Baile da corte”, premiada no FENDAFOR:
Juliana, Lohana, Lanna, Jannyele, Letícia, Fabiane, Lívia e Noélia.


Bailarinas da coreografia “Nevasca”, premiada no FENDAFOR:
Maria Karoline, Mariana Brito, Lanna Zaynara e Tainá Alencar.

Bailarinas e capoeiristas (AISSERIS) da coreografia “Capubalé”, premiada no FENDAFOR:
Willian, Noélia, Lanna, Pétrick, Jannyele, Diogo, Victor, Lohana, Nilton e Luana.

Bailarinas(os) da coreografia “Gangsters ”, premiada no FENDAFOR:
Hadson de Sousa, Maria Karoline, Tainá Alencar, Chiara Rêgo, Lanna Zaynara,
Jannyelle Damasceno, Alan Jhonatan e. Luana Thelly.

domingo, 19 de junho de 2011

ACADEMIA CHIARA RÊGO: NAS TRILHAS DA DANÇA...


Os bailarinos e bailarinas da Academia de Dança “Chiara Rêgo” estão numa rotina intensa de trabalho: suando as malhas... Motivo: de 28 de junho a 03 de julho, Capanema e o estado do Pará serão representados em um grande festival internacional de dança realizado na capital brasileira do forró, Fortaleza. O FENDAFOR XIFestival Internacional de Dança de Fortaleza e Itinerante do Ceará, objetiva proporcionar oportunidades para o desenvolvimento de novos talentos e a troca de experiência entre grupos, bailarinos e Cias. de Dança de todo Brasil e outros países do mundo. Além de ampliar o calendário cultural do nosso país, colocando o FENDAFOR entre os grandes Festivais Nacionais e Internacionais de Dança do Brasil.


A Academia de Dança “Chiara Rêgo”, selecionada para participar do festival, irá com uma comitiva composta por mais de cinquenta pessoas: bailarinos(as), pais, mães e amantes da dança. Também integrarão o grupo, bailarinos(as) da AISSERIS – Associação de Integração Social Sebastião Ribeiro da Silva, com total apoio da Ir. Edna Lima (Presidente da AISSERIS) e da Ir. Anna D’LLouro (ex-coordenadora das atividades artísticas). A Academia apresentará vinte coreografias (balé clássico, jazz, contemporâneo, dança do ventre, dança de salão e dança de rua) assinadas pela professora Chiara e pelo professor Hadson de Sousa. Os espetáculos serão realizados no histórico “Teatro José de Alencar” e no “Centro Cultural Dragão do Mar”. A professora Chiara, feliz por mais este festival no currículo da Academia, agradece a dedicação dos bailarinos(as) e o apoio incomensurável dos pais, mães; que além de patrocinadores, irão aplaudir nosso trabalho em Fortaleza. “Realmente sou muito grata a Deus e a todos que compõe a nossa Academia...”, diz.

  
O FENDAFOR é uma realização da A.C.C.N. Lima Produções, através do Grupo BCAD. Tem o apoio Institucional do Fórum Estadual de Dança do Ceará e dos Grupos Permanentes de Dança do Ceará – GEPEDANCE, da Comissão de Dança do Ceará e direção e Coordenação Geral da bailarina Janne Ruth. Mais uma vez Capanema será exaltada pela arte da dança, em grande estilo: A Academia de Dança “Chiara Rêgo”
(Hadson de Sousa)    

quarta-feira, 8 de junho de 2011

POR UM TEMPO DE LUZ...


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Vou me deixar levar, como nunca dantes, pelos moldes desse gênero que aprisiona a minha vontade de representar e a reduz à simplicidade; às vezes ao mero acaso. Aos fatos mais insignificantes do cotidiano, talvez. Cotidiano!!!!! Palavrinha que causa repulsa em alguns e vontade de viver noutros. E é justamente quando o cotidiano é surpreendido pelo novo, que será engolido logo depois por ele, que irrompe esta vontade... Vontade de...
Então, para iniciar um bate-papo, vou começar por algo visível, exterior, bem cotidiano. Não pelo afã de tornar visível o que não era invisível. Mas para trazer a luz o que, por anos, esteve à sombra e foi negado pelo descaso e desinteresse próprios da politicagem...
Outro dia passeando à noite com minha família pela histórica Avenida Barão de Capanema, algo iluminado atraiu nossa atenção. De fato, foi a luz que fez com que nossos olhos fixassem aquela paisagem, antes ignorada. Apesar de ter mais de uma década entre nós estava totalmente abandonada pelo descaso social. Não deu para conter os comentários. Sabem quando uma criança vislumbra algo que não é novo, mas está de cara nova? Então, espantados, não apenas com a luz, em coro dissemos: OOOOHHHH!!!! Soou aproximado ao Aleluia de Handel... Eu particularmente estava diante do inacreditável, da concretização de um sonho engasgado de muitos capanemenses. Não acreditava que no meio deste Mato Azarado irromperia um dia o Campus da Universidade Federal do Pará.  

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Minha memória descrente acionou vários recortes abandonados... Foi impossível não lembrar os anos de escuridão que vivi no antigo (e posso usar este termo com convicção e alegria agora) Núcleo da UFPA/Capanema. Quando fui aprovado no curso de Letras (Noturno) ficava imaginando, como seria passar quatro anos num ambiente inóspito, hostil, mítico, totalmente descontextualizado de um universo acadêmico; que surge com as ideias do pensamento racional.
A turma de Letras-2006 teve de transformar o famigerado Núcleo (hoje o iluminado Campus) num universo acadêmico. Um espaço, totalmente, anti-universitário, numa universidade. No universo das letras. Fizemos daquela sala hostil, um espaço dialético e dialógico: Um lugar de produção de conhecimento; e não nos comportamos como meros expectadores. Fomos atores do espetáculo de nossa formação acadêmica. Ressuscitamos a Arcádia grega onde os deuses reuniam-se para produzir conhecimentos; ressignificamos, ou reafirmamos o rótulo de academia. Pena que estas transformações não se estenderam ao espaço físico: nossa voz clamava num deserto de recursos básicos, como uma lâmpada para iluminar a sala de aula.
O que os professores, advindos de outros campi da UFPA, nos diziam em uníssono e, alguns colegas desconfiavam, constatamos, hoje, que era verdadeiro. Não fomos graduandos passivos... Não saímos ilesos da academia, embora lesados... Com palavras aspeadas reitero: “Vocês são uma tribo, não de um chefe, mas de vários caciques...” (declarou, emocionado, o professor Francisco Pereira do campus de Bragança). É, dedicamo-nos muito... Não fazíamos o que nos delegavam, não nos conformávamos com a caótica situação do antigo núcleo. Com a irracionalidade tornada política, antidesenvolvimentista. Transcendemos esse determinismo político atroz; pagamos, algumas vezes, um preço alto por isso... Quase éramos exilados para o campus de Bragança.
Assim, apesar das reivindicações, protestos e manifestações, carecíamos, sobretudo, de um ILUMINISMO (longe de mim, querer esvaziar este signo petrificado na história ou atribuir sentidos outros)... Necessitávamos de uma revolução neste âmbito. Sair do caos da falta de expressão e visibilidade. Quando eu comentava com alguém que estava cursando Letras na UFPA/Capanema, as pessoas, espantadas, diziam que não sabiam da existência desta instituição no nosso município. Quando eu dizia que funcionava num prédio na Av. Barão de Capanema, aguçava ainda mais a curiosidade, pois eram inevitáveis descrições do tipo: “lá naquele prédio abandonado, cheio de mato...”. Na época da eleição para reitor decidimos, esperançosos, apoiar o Professor Carlos Maneschy, sob a condição de que ele voltaria o olhar para a UFPA/Capanema.     

Hoje, pelas mãos do professor Álvaro Lobo, Capanema está sendo reembolsada de um sonho roubado... Sonho de muitos jovens que tiveram que sair daqui para estudar e, de tantos outros, que por serem de famílias com situação financeira módica, abortaram o sonho por falta de oportunidade. O revés da história ofusca-se com a luminosidade de um presente concreto que quer subsumir este pretérito injusto. Pois o novo momento desta instituição em Capanema não comporta essa faceta da temporalidade. Entretanto torna visível um desejo estancado, sem satisfação, que jazia na memória de muitos e, agora ressuscita, apesar do breve tempo e dos parcos investimentos, por parte da atual gestão municipal, cheio de “memória de futuro”.
(Hadson de Sousa)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

MÃES: SERES EXTRATERRENOS...

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É... gerar, dar a luz a outro ser, realmente não deveria ser tão simples assim... Mas tornou-se algo comum... Em especial as gestações indesejadas... Sobretudo, refiro-me àquelas em que crianças geram crianças. E depois, quem é que fica com a imagem de mãe, nestes casos? Como discuti em outro texto, a dona ciência já fez sua parte em exaltar, classificar, estes seres que geram de SEXO FORTE. Por outro lado, este feito as torna seres comuns... Daí, independente da capacidade de gerar, elas podem ou não receber o título de MÃE... Porque, apenas parir virou uma ato banal. Tanto que muitas mulheres parem e jogo seus filhos no lixão, em terrenos baldios, os deixam nas esquinas da vida... Ou procuram outra forma de dar cabo daquele ser Estranho que, talvez, as ensinasse a AMAR... E não é tão simples assim... Uma vida talvez seja pouco.


Hoje, com a transmutação de tudo, há inúmeras maneiras de gerar/ter um filho; por inseminação artificial, adoção e outras mais. Independentemente disso, numa gravidez, num processo de reprodução artificial e/ou na adoção no mínimo três seres são gerados. Primeiro um bebê, caso contrário não poderíamos considerar uma reprodução desta natureza; segundo um pai; e terceiro uma MÃE... Nestes últimos é que residem alguns problemas. O momento mais complicado do parto, ou de outro processo como este, é parir um pai, uma MÃE.

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Certa vez uma amiga, que apesar de ter dois filhos adolescentes, disse-me que “buscava” ser MÃE – com tudo que esse título implica. Fiquei pensativo, confuso, com tamanha clarividência... Quando nasceu meu primeiro filho, eu e minha esposa encontramos com este SER EXTRATERRESTRE, não por acaso, e ela com plena sapiciência nos deixou, novamente, uma grande reflexão... Relatou com muita suavidade que o processo que estávamos vivenciando era uma experiência dual, paradoxal, nada telúrica. Um ser Estranho, que não conhecíamos, entra em nossas vidas e nos ensina a amá-lo, quando estamos dispostos... Ela, em tom de brincadeira, todavia falando sério, nos furou: Não me digam que já o amam verdadeiramente, porque isso é papo furado...  

MÃE do Perpétuo Socorro
Fiquei letárgico por alguns instantes... Pensei: Toda aquela preparação para receber este ser Estranho, arrumar o quartinho, comprar os objetos necessários etc. etc. etc. não é nada diante do exercício diário que teremos que praticar para sermos considerados pais, mães: PÃES. Naquele momento extraordinário pensei, também, na minha AMADA MÃE, Maria do Socorro, que assim como tantas Marias, acolheu/atendeu o clamor, o socorro, de quatro Estranhos, dedicou sua vida e aprendeu a amá-los, incondicionalmente. Por isso AMADA MÃE...


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Decidiu ser um EXTRATERRESTRE, pois se dispôs a parir todo santo dia. A exercer a tarefa árdua de NASCER, AMAR, SOFRER e MORRER com e por seus filhos. A ultrapassar a finitude de seu corpo frágil – feito de pó – que, apesar de comportar um sexo forte, necessita buscar forças etéreas para ser esta MÃETRIZ, disposição que transcende o corte umbilical. Ponto de chegada, de partida e de eterno retorno. Tudo isso demanda, realmente, um agir moral incomum. Atitude ética originária... A ciência consegue brincar de deus e criar filhos in vitro, porém está longe de reproduzir MÃES de proveta. MÃE não é uma questão de decisão: “querer ou não querer?”. Mas ação e doação diária para constituição do SER.

(Hadson de Sousa

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O MELHOR AMIGO DO HOMEM...


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Antes de discordar, veementemente, fiz inúmeras análises e reflexões. Não é o caso de quere ser do contra. Sei que ao ler o título, os senhores pensaram logo no “cão fiel”... Pois não me refiro a este animal que a cultura pet shop introjetou nas nossas mentes como o melhor amigo do homem. Até fiz algumas experiências, mas não consegui tê-lo como tal. Cheguei à óbvia constatação de que ele é apenas um “animalzinho”. E, às vezes, por vários motivos, revolta-se e rompe a amizade imposta de forma drástica, nada convencional. Daí, para melhor amigo perde-se muita coisa pelo meio do caminho. Cuidado: cão bravo!!!



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Tudo bem!!! Há quem confie mais "no amigo fiel" do que nos seres que se dizem humanos. Todavia, projetam no bichinho características que gostariam de encontrar nas pessoas. Ou seja, no fim das contas personificam o bicho e ele passa a fazer parte da família: Oi meu bebê, cheguei!!! Filhinho, mamãe/papai tava com saudades. O cão, claro, não entendendo nada, balança o rabo, pula e late feliz da vida... Conheço várias histórias, nada de cão, de deixar os cabelos da careca em pé. Conheci um que só dormia se ligassem o condicionador de ar... É mole??? Sei de outro que adoece com saudades do dono; chora; quer atenção; sente ciúmes... Exigente esse amigo, hein?

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Depois dessas análises, insatisfeito inclusive com o custo e o trabalho que dá esse "melhor amigo", arranjei um usurpador... Supriu, com certeza, todas aquelas lacunas. Nomeei o livro para assumir este posto. Ah! Este sim deveria receber esse rótulo. Pois é um amigo para todas as horas. E tem pra todos os gostos... Alguns cabem até no nosso bolso, literal ou metaforicamente falando. Em caso de contenção de despesas, sabe, podemos pedir emprestado por tempo ilimitado. Porque, quem empresta é que não presta. Porém, neste caso faz um grande favor, caridade... Enfim, não ficaremos abandonados nunca. Nem as crianças mais ingênuas passam despercebidas, elas sabem que ele porta mais que uma mensagem, dele evola mistérios... Por isso, aguça a curiosidade até de quem precisa de terceiros para se relacionar com ele.

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O livro é realmente um grande amigo, não o melhor... Na companhia dele nunca nos sentiremos a sós; basta lê-lo para comprovar. Mesmo no total silêncio, é possível ouvir várias vozes. Alguns são uma verdadeira Babel, uma confusão organizada – ele nunca subsume nossa voz. Mesmo que discordemos dele permaneceremos indeléveis. Ele não nos impõe nada. Caso ele exceda os limites, simplesmente podemos fechá-lo e pronto; problema resolvido.

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Em contrapartida, não há como ficar imune após um relacionamento com um amigo dessa natureza. Querendo ou não, aceitando ou não, não seremos mais os mesmos, nem ele também. Será sempre uma experiência transformadora... Ambos sairemos lesados... E, perda é ganho. Ele amplia nosso olhar, maximiza os detalhes que fingimos não ver – nos faz enxergar a vida de um ângulo bem mais panorâmico. No filme “Abril Despedaçado” (dirigido por Walter Salles), há um exemplo formidável. O filme, uma interpretação do livro homônimo (de Ismail Kadará), apesar de enfocar a ruptura de uma tradição violenta, comum no nordeste do Brasil, mostra, transversalmente, o fascinante relacionamento do garoto “Pacu” (Ravi Lacerda) com um livro. Ambos consubstanciam a quebra de convenções, a liberdade. O “minino”, morador do “Riacho das Almas” – de fotografia desértica, monocolor, sonha em ver o mar e encontrar com a Sereia encantada.

"Pacu" - Fotograma do filme "Abril despedaçado" 

"Pacu" realiza o sonho quando ganha de presente, de andarilhos, um livro. O “minino”, sentado embaixo de um tronco de árvore seco, na companhia do livro, evade-se daquela paisagem e viaja até o mar para encontrar sua Sereia; o pai (José Dumont) priva o garoto de sonhar acordado e o proíbe de ficar com o livro (uma das cenas mais emocionantes do filme). O livro sim é o melhor amigo do homem, transcria nossa realidade e a torna suportável. Em retribuição, somos responsáveis por atualizá-lo, ressignificá-lo. Ele é um eterno dependente da nossa amizade leitora. Portanto não há autossuficiência nesta relação, necessitamos um do outro: Coexistimos. Coconstruímos e coescrevemos nossa história... 

(Hadson de Sousa) 

sexta-feira, 18 de março de 2011

MULHER FORMOSA...

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Somos todos sabedores das infindas idiossincrasias delegadas culturalmente às mulheres. A mais ridícula de todas: mulher é sexo frágil... Não acredito. Ainda bem que já comprovaram, cientificamente, o contrário. É, na Indonésia os bebês que nascem do tamanho da palma da mão, somente os do sexo feminino sobrevivem. Os homens, coitados, nem o rótulo de Brutus consegue mudar essa história. Aqueles que se consideram sexo forte, relaxem e concebam... Ou então, tentem contrariar a dona Ciência. Nasçam do tamanho da palma da mão pra ver!!! Não adianta. O tempo em que a casa só tinha um esteio, já se foi. Em muitas, hoje, elas são o alicerce, o esteio e o telhado.
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A velha concepção de sexo frágil criou muitas crostas feministas. A cantora Marina Elali interpreta uma música (composta por Alexandre Leão e Manuca Almeida) que, apesar de ser uma bela canção, expressa muito bem a cosmologia imposta ao universo feminino: MULHERES GOSTAM. De flores, de shampoo, de espelho, de corpo nú; de mulheres, de batom, de meias; de homens que não perguntam se foi bom; de gastar, gastam o tempo, não gostam de ver o tempo passar; mulheres ainda querem casar. Analiso como uma tarefa arriscada, na atualidade, tentar fazer liames entre gostos e sexo. Daí o velho ditado: Gosto e sexo, cada um tem o seu... Melhor dizer sexo. Concordam?
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Porém há no musipoema um detalhe importantíssimo que clarifica o grande diferencial entre os sexos. Talvez seja isso que me faz concordar em gênero, número e caso com a tese da dona ciência: MULHERES GERAM. Neste ponto sou Neandertal. É isso mesmo: sou cavernoso... Nossos parentes das cavernas devem ser considerados Homo sapiens. Não pelo fato de que eram mais fortes e tinham um cérebro maior. Mas por terem conseguido identificar o grande diferencial entre os sexos. Veja, dentre as heranças deixadas por eles, há uma relíquia que chama atenção. Uma escultura feminina nomeada pelos antropológos de “Vênus”: Mulher formosa...
Vênus de Willendorf
Uma justa homenagem às mulheres, petrificada e perpetuada na história. Nossos ascendentes das cavernas, exímios observadores,  esculpiram a mulher no estado interessante. As formas são avantajadas. Seios e ventre dilatados. Supõem-se que os pioneiros na arte de esculpir tinham certa curiosidade pelo período gestacional. Gerar, dar a luz a outro ser: feito fantástico... Inexplicável não somente àquele época, pois ainda guarda mistérios. 
Apesar das "limitações" técnicas, o Neandertal soube, inteligentemente, negritar o que realmente difere estes seres maravilhosos que arriscam a própria vida para perpetuar a espécie. Elas ultrapassam a barreira do humano para gerar. Buscam força sobrehumanas. Como os sábios da caverna quero homenagiá-las, sempre... Não pelo sangue do massacre de 08 de março, mas pelo sangue em prol da vida... Não porque encurtaram os vestidos e vestiram calça, blazer; não porque provaram que são inteligentes; não porque subiram nas ribaltas; não porque assumiram postos outrora ocupados somente pelo sexo masculino - frágil; não porque puderam expressar seus desejos reprimidos; não porque assumiram a presidência da República. Não, não, não! Mas, simplesmente, porque são MULHERES, SEXO FORTE...
(Hadson de Sousa)

segunda-feira, 7 de março de 2011

RESTOS DO CARNAVAL (CLARICE LISPECTOR)

Clarice Lispector - Google imagens
Não, não deste último carnaval. Não sei por que este me transportou para a minha infância e para as quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina e confete. Uma ou outra beata com um véu cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia que se segue ao carnaval. Até que viesse o outro ano. E quando a festa ia se aproximando, como explicar a agitação íntima que me tomava? Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu.
No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a um baile infantil, nunca me haviam fantasiado. Em compensação deixavam-me ficar até umas 11 horas da noite à porta do pé de escada do sobrado onde morávamos, olhando ávida os outros se divertirem. Duas coisas preciosas eu ganhava então e economizava-as com avareza para durarem os três dias: um lança-perfume e um saco de confete. Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.
E as máscaras? Eu tinha medo mas era um medo vital e necessário porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara. À porta do meu pé de escada, se um mascarado falava comigo, eu de súbito entrava no contato indispensável com o meu mundo interior, que não era feito só de duendes e príncipes encantados, mas de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com os mascarados, pois, era essencial para mim.
Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente, ninguém em casa tinha cabeça para carnaval de criança. Mas eu pedia a uma de minhas irmãs para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me causavam tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos frisados pelo menos três dias por ano. Nesses três dias, ainda, minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser uma moça – eu mal podia esperar pela saída de uma infância vulnerável – e pintava a minha boca de batom bem forte, passando também ruge nas minhas faces. Então eu me sentia bonita e feminina, eu escapava da meninice.
Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha e o nome da fantasia era no figurino Rosa. Para isso comprara folhas e folhas de papel crepom cor-de-rosa, com as quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de uma flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco a fantasia tomando forma e se criando. Embora de pétalas o papel crepom nem de longe lembrasse, eu pensava seriamente que era uma das fantasias mais belas que eu jamais vira.
Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado: sobrou papel crepom, e muito. E a mãe de minha amiga – talvez atendendo a meu apelo mudo, ao meu mudo desespero de inveja, ou talvez por pura bondade, já que sobrara papel – resolveu fazer para mim também uma fantasia de rosa com o que restara de material. Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma.
Até os preparativos já me deixavam tonta de felicidade. Nunca me sentira tão ocupada: minuciosamente, minha amiga e eu calculávamos tudo, embaixo da fantasia usaríamos combinação, pois se chovesse e a fantasia se derretesse, pelo menos estaríamos de algum modo vestidas – a ideia de uma chuva que de repente nos deixasse, nos nossos pudores femininos de oito anos, de combinação na rua, morríamos previamente de vergonha – mas ah! Deus nos ajudaria! não choveria! Quanto ao fato de minha fantasia só existir por causa das sobras de outra, engoli com alguma dor meu orgulho que sempre fora feroz, e aceitei humilde o que o destino me dava de esmola.
Mas por que exatamente aquele carnaval, o único de fantasia, teve que ser tão melancólico? De manhã cedo no domingo eu já estava de cabelos enrolados para que até de tarde o frisado pegasse bem. Mas os minutos não passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim! chegaram três horas da tarde: com cuidado para não rasgar o papel eu me vesti de rosa.
Muitas coisas que me aconteceram tão piores que esta, eu já perdoei. No entanto essa não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino é irracional? É impiedoso. Quando eu estava vestida de papel crepom todo armado, ainda com os cabelos enrolados e ainda sem batom e ruge – minha mãe de súbito piorou muito de saúde, um alvoroço repentino se criou em casa e mandaram-me comprar depressa um remédio na farmácia. Fui correndo vestida de rosa – mas o rosto ainda nu não tinha a máscara de moça que cobriria minha tão exposta vida infantil – fui correndo, correndo, perplexa, atônita, entre serpentinas, confetes e gritos de carnaval. A alegria dos outros me espantava.
Quando horas depois a atmosfera em casa acalmou-se, minha irmã me penteou e pintou-me. Mas alguma coisa tinha morrido em mim. E, como nas histórias que eu havia lido sobre fadas que encantavam e desencantavam pessoas, eu fora desencantada; não era mais uma rosa, era de novo uma simples menina. Desci até a rua e ali de pé eu não era uma flor, era um palhaço pensativo de lábios encarnados. Na minha fome de sentir êxtase, às vezes começava a ficar alegre mas com remorso lembrava-me do estado grave de minha mãe e de novo eu morria.
Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns 12 anos, o que para mim significava um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos já lisos de confete: por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa.

(Clarice Lispector em Felicidade Clandestina)

sábado, 5 de março de 2011

MÁSCARAS DO DIA-A-DIA...

DI CAVALCANTI - SONHOS DE CARNAVAL (1955)

Ó abre alas pro meu EU passar...

Por estes dias uma energia diferenciada envolve o Brasil. Sentimos uma sensação de liberdade, mesmo que fugaz. Por algum tempo temos a oportunidade de nos fantasiarmos de nós mesmos. Apesar de tanto nudez física, o carnaval é uma oportunidade única de estarmos nus; não de vestes.
Sim, fiques triste que este mundo não é feito de EUs...
Ao acordarmos nos outros dias do ano, nos fantasiamos para os bailes nossos de cada dia. E são muitas as opções... Obrigatoriamente, nos vestimos de pais, mães, maridos, esposas, patrões, empregados, policiais, garanhões, sedutoras, machistas, feministas, bandidos, vitimas, amigos, inimigos etc. etc. etc. Não faltam rótulos. Somos “boa praça”, ou melhor: produtos da praça. Temos muitas alternativas de capas sociais para ocultar o nosso verdadeiro EU.
Atrás do trio elétrico. não vai o EU que já morreu.
Contudo, durante o festival da carne nosso verdadeiro EU aflora sem vergonha e, tiramos do fundo do baú aquilo que não é fantasia: estamos, portanto, nus. Conscientes de que a crítica e a censura estão de folga, bebemos coragem e expomos nossos desejos incontidos; sem esquecer, claro, que tudo terminará em cinzas. Tudo acabado e nada mais...
Beba até se afogar em si mesmo. Deixe as águas rolar!
Longe das convenções, tudo é permitido... Nosso eu emerge resplandecente, purpurinado. Não nos envergonhamos de nós. Só a epiderme nos reveste. Assim, um pouco de anestésico basta para encaramos a apoteose sem máscaras impostas, mas mascarados da verdade... Não dá pra conter a emoção: é porre na certa. Caímos com os confetes e as serpentinas. Ai, ai, ai, ai.

A nossa vida deveria ser um carnaval,
Porém a gente brinca escondendo a dor...
       Quando levantarmos, não nos lembraremos de nada, propositalmente. Ora, ora, não é todo dia que temos a oportunidade de participar de um entrudo onde não nos arremessam as pedras da moral forjada. Nosso mais sincero segredo é motivo de graça, não de escândalo. Depois, é hora de vestir os personagens dos bailes da vida. Pois só os corajosos fazem da vida um eterno carnaval. Todo mundo prefere levar a vida no arame, com a máscara da ilusão dos Pierrots e Arlequins. Deixam o seu verdadeiro EU transformar-se em cinzas.

LEIA TAMBÉM:

"RESTOS DO CARNAVAL" (CLARICE LISPECTOR)
http://hadsonsousa.blogspot.com/2011/03/restos-do-carnaval-clarice-lispector.html

domingo, 27 de fevereiro de 2011

CAVALO DADO NÃO SE OLHA OS DENTES?

GOOGLE IMAGENS
Se pararmos para pensar, vivemos hoje uma reviravolta nas convenções que nossos ascendentes outrora nomearam de valores. Lembro perfeitamente de muitos ditos populares que minha mãe, sobejamente, em momentos oportunos, fazia questão de enunciá-los, e citar a fonte, com o afã de nos preparar para fora: EDUCAR...
Alguns àquela época passavam batidos. Um deles, só entendi depois que tive a graça de ser pai. Mamãe usava-o nos momentos difíceis, talvez para buscar forças, como o espinafre do Popeye: – Minha vó sempre dizia: Quem tem filhos tem cadilhos, quem não os tem, cadilhos tem. Se os senhores não entenderam, eu também bati cabeça para tal...
         Dançar de acordo com a música... foi outro ensinamento importante para exercitar a paciência. Na sociedade do automático, este valor foi ejetado. Somos extremamente imediatistas, preferimos os links (que nos fazem desviar o caminho) e a sensação de rapidez. Queremos somente clicar e pronto. Caso contrário: EXPLOSÃO! Não encaro estas pérolas como fruto do determinismo, conformismo, imposições de outrem. Mas como filosofia popular; um verdadeiro elixir para a vida em sociedade. Elas me veem à cabeça, nos momentos necessários, como oração da humildade... Então, vejo que não posso abarcar o mundo com as pernas. Portanto não sou dono do mundo... Querer, não é poder.
          Outro dia vivenciei uma situação que me fez resgatar um desses tesouros dos antigos. Uma senhora necessitada, como todos somos de algo, bateu na minha porta para pedir ajuda. No início eu atendia aos pedidos, mesmo sem receber um simples obrigado em troca. Depois de um tempo os pedidos se transformaram em ordens. Sentia-me obrigado a ajudá-la..., a atender o que ela exigia, porém ao mesmo tempo percebi a imposição exterior. Quando eu não podia atender os “requerimentos” na totalidade, ela simplesmente desdenhava da oferta. A situação tornou-se o avesso da caridade. Fui obrigado, também, a colocar um ponto final na história. Pois o movimento não vinha do coração, penso que do fígado. 


Refletindo o fato, fiz o download de um arquivo do HD da memória: Cavalo dado não se olha os dentes... É, percebi que a máxima que me levou a exercitar a gratidão, desde cedo, a receber de coração a boa vontade das pessoas, pelo mais simples gesto, sem nunca exigir nada, havia sido redimensionada... Em crise, cheguei até a pensar que os dentes do cavalo dado deveriam ser olhados, questionados, recusados... Que absurdo. Abuso de necessidade!!!


Pena que esses valores foram metamorfoseados na sociedade do descartável. Vivemos hoje o lado negatividade do niilismo no âmbito da ética e da moral, morte dos valores ensinados e petrificados pelos sábios que nos precederam (tataravós, bisavós, avós). Agora, tudo é permitido... Quem disse que a mentira ainda tem pernas curtas? Hoje, ela vale mais que a verdade. Somos assaltados em nossas casas, nas esquinas da vida, pelo discurso da necessidade falsa, do “coitadismo” (falta de vergonha seria melhor...). Geralmente, não doamos de coração, a caridade nos é arrancado do bolso. Temos medo dos castigos do deus forjado pelos pedintes, por isso ficamos com as mãos para o alto... 

domingo, 13 de fevereiro de 2011

18º FESTIVAL DE DANÇA ACADEMIA CHIARA RÊGO



Podemos comparar nossa biodiversidade natural com nossa diversidade cultural... O ser humano com seu modo de recortar a realidade, de ver e entender o mundo, criou AMBIENTES tão DIFERENTES quanto os naturais. Cada um com energias e ares díspares, compõe um grande mosaico e, cada pedaço com suas peculiaridades diferenciam-se do todo, mas sem conflito, sobreposição. Há uma perfeita harmonia e interação, complementação... Como se todos os AMBIENTES, apesar de DIFERENTES, tivessem aspectos que, ao mesmo tempo em que os diferenciam, os tornam similares.  Estes ambientes possuem um arquétipo comum. Uma espécie de enteléquia, essência da alma, que para Aristóteles é a forma e o ponto onde reside a perfeição.
A Academia de Dança Chiara Rêgo traduziu em movimento, no seu último espetáculo de fim de ano (dezembro de 2010), esses diversos AMBIENTES criados pelo homem, resultado da confluência entre as culturas. A dança foi utilizada como enteléquia para interligar estes “espaços”. Na ribalta mais de duas horas de muita dança. Cada coreografia, um mix de estilos, expressava a multiculturalidade responsável pela reformatação das sociedades. A coreógrafa revelação do “Dança Pará 2010”, Chiara Rêgo, idealizadora do festival, diz que a montagem reforça uma das finalidades da arte que é transformar os espaços em “AMBIENTES DIFERENTES”...
Tudo isso resultou no recorde de bilheteria. O público que lotou o Auditório Frei Leônidas Vavassori é responsável por tornar o Festival de Dança da Academia Chiara Rêgo uma tradição no município de Capanema. “Porque sem os aplausos calorosos e motivadores deste público, cada vez mais ávido do prazer estético proporcionado pela arte da dança, nosso trabalho não teria sentido. Ele só se torna possível, pleno, com a força tarefa de todos aqueles que creditam e acreditam no potencial transformador da arte do corpo...” – desabafa a professora Chiara Rêgo num tom de agradecimento a todos que patrocinaram, apoiaram e participaram, no palco ou na plateia, da 18ª edição do Festival...