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sábado, 5 de março de 2011

MÁSCARAS DO DIA-A-DIA...

DI CAVALCANTI - SONHOS DE CARNAVAL (1955)

Ó abre alas pro meu EU passar...

Por estes dias uma energia diferenciada envolve o Brasil. Sentimos uma sensação de liberdade, mesmo que fugaz. Por algum tempo temos a oportunidade de nos fantasiarmos de nós mesmos. Apesar de tanto nudez física, o carnaval é uma oportunidade única de estarmos nus; não de vestes.
Sim, fiques triste que este mundo não é feito de EUs...
Ao acordarmos nos outros dias do ano, nos fantasiamos para os bailes nossos de cada dia. E são muitas as opções... Obrigatoriamente, nos vestimos de pais, mães, maridos, esposas, patrões, empregados, policiais, garanhões, sedutoras, machistas, feministas, bandidos, vitimas, amigos, inimigos etc. etc. etc. Não faltam rótulos. Somos “boa praça”, ou melhor: produtos da praça. Temos muitas alternativas de capas sociais para ocultar o nosso verdadeiro EU.
Atrás do trio elétrico. não vai o EU que já morreu.
Contudo, durante o festival da carne nosso verdadeiro EU aflora sem vergonha e, tiramos do fundo do baú aquilo que não é fantasia: estamos, portanto, nus. Conscientes de que a crítica e a censura estão de folga, bebemos coragem e expomos nossos desejos incontidos; sem esquecer, claro, que tudo terminará em cinzas. Tudo acabado e nada mais...
Beba até se afogar em si mesmo. Deixe as águas rolar!
Longe das convenções, tudo é permitido... Nosso eu emerge resplandecente, purpurinado. Não nos envergonhamos de nós. Só a epiderme nos reveste. Assim, um pouco de anestésico basta para encaramos a apoteose sem máscaras impostas, mas mascarados da verdade... Não dá pra conter a emoção: é porre na certa. Caímos com os confetes e as serpentinas. Ai, ai, ai, ai.

A nossa vida deveria ser um carnaval,
Porém a gente brinca escondendo a dor...
       Quando levantarmos, não nos lembraremos de nada, propositalmente. Ora, ora, não é todo dia que temos a oportunidade de participar de um entrudo onde não nos arremessam as pedras da moral forjada. Nosso mais sincero segredo é motivo de graça, não de escândalo. Depois, é hora de vestir os personagens dos bailes da vida. Pois só os corajosos fazem da vida um eterno carnaval. Todo mundo prefere levar a vida no arame, com a máscara da ilusão dos Pierrots e Arlequins. Deixam o seu verdadeiro EU transformar-se em cinzas.

LEIA TAMBÉM:

"RESTOS DO CARNAVAL" (CLARICE LISPECTOR)
http://hadsonsousa.blogspot.com/2011/03/restos-do-carnaval-clarice-lispector.html

Um comentário:

  1. Meu belíssimo amigo,
    Lindo e poético o seu texto!...
    Como, aliás, é do seu feitio!
    Que delícia se o Carnaval fosse só uma festa, uma festa eterna, que durasse quatro infinitos dias de alegria, de festa, de confraternizações, de nivelações sociais...
    No carnaval deveríamos ser o que sempre sonhamos...
    Às vezes, é.
    Olhanto, entretanto, o outro lado da questão, outras vezes, o Carnaval acaba sendo, também, dissabores, violência, desarrumação, bagunça generalizada... causa muita dor, muito sofrimento...
    O carnaval não é, infelizmente, por mais que queiramos, uma festa popular... que o digam os donos da noite, dos clubes, dos milionários trios elétricos...
    As canções carnavalescas de outrora falam e rememoram um carnaval que não mais existe.
    No entanto, mais que nunca, é preciso cantar (como diz a marchinha de Vinicius)... é preciso acreditar no inacreditável... é preciso revitalizar e dar voz ao lado bom que, teimosamente, ainda existe em nós...
    Tudo é texto e contexto.
    Tudo tem o seu lado "A" e o lado "A"...
    O lado bom e o lado ruim...
    Tudo se insere em uma leitura maior que acaba mostrando os lados díspares da realidade (sempre cruel, inexorável, implacável).
    Viver é se deixar levar...
    Um pouco de reflexão não faz mal a ninguém...
    Beijos n'alma...
    Continue sempre escrevendo.
    Escrever exorciza tudo o que há em nossos reprimido, recalcado.
    Escrever nos devolve a nós mesmos...
    Portanto, é pegar botar a fantasia e sair atrás do bloco...
    Joel Cardoso

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