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sexta-feira, 29 de abril de 2011

O MELHOR AMIGO DO HOMEM...


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Antes de discordar, veementemente, fiz inúmeras análises e reflexões. Não é o caso de quere ser do contra. Sei que ao ler o título, os senhores pensaram logo no “cão fiel”... Pois não me refiro a este animal que a cultura pet shop introjetou nas nossas mentes como o melhor amigo do homem. Até fiz algumas experiências, mas não consegui tê-lo como tal. Cheguei à óbvia constatação de que ele é apenas um “animalzinho”. E, às vezes, por vários motivos, revolta-se e rompe a amizade imposta de forma drástica, nada convencional. Daí, para melhor amigo perde-se muita coisa pelo meio do caminho. Cuidado: cão bravo!!!



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Tudo bem!!! Há quem confie mais "no amigo fiel" do que nos seres que se dizem humanos. Todavia, projetam no bichinho características que gostariam de encontrar nas pessoas. Ou seja, no fim das contas personificam o bicho e ele passa a fazer parte da família: Oi meu bebê, cheguei!!! Filhinho, mamãe/papai tava com saudades. O cão, claro, não entendendo nada, balança o rabo, pula e late feliz da vida... Conheço várias histórias, nada de cão, de deixar os cabelos da careca em pé. Conheci um que só dormia se ligassem o condicionador de ar... É mole??? Sei de outro que adoece com saudades do dono; chora; quer atenção; sente ciúmes... Exigente esse amigo, hein?

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Depois dessas análises, insatisfeito inclusive com o custo e o trabalho que dá esse "melhor amigo", arranjei um usurpador... Supriu, com certeza, todas aquelas lacunas. Nomeei o livro para assumir este posto. Ah! Este sim deveria receber esse rótulo. Pois é um amigo para todas as horas. E tem pra todos os gostos... Alguns cabem até no nosso bolso, literal ou metaforicamente falando. Em caso de contenção de despesas, sabe, podemos pedir emprestado por tempo ilimitado. Porque, quem empresta é que não presta. Porém, neste caso faz um grande favor, caridade... Enfim, não ficaremos abandonados nunca. Nem as crianças mais ingênuas passam despercebidas, elas sabem que ele porta mais que uma mensagem, dele evola mistérios... Por isso, aguça a curiosidade até de quem precisa de terceiros para se relacionar com ele.

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O livro é realmente um grande amigo, não o melhor... Na companhia dele nunca nos sentiremos a sós; basta lê-lo para comprovar. Mesmo no total silêncio, é possível ouvir várias vozes. Alguns são uma verdadeira Babel, uma confusão organizada – ele nunca subsume nossa voz. Mesmo que discordemos dele permaneceremos indeléveis. Ele não nos impõe nada. Caso ele exceda os limites, simplesmente podemos fechá-lo e pronto; problema resolvido.

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Em contrapartida, não há como ficar imune após um relacionamento com um amigo dessa natureza. Querendo ou não, aceitando ou não, não seremos mais os mesmos, nem ele também. Será sempre uma experiência transformadora... Ambos sairemos lesados... E, perda é ganho. Ele amplia nosso olhar, maximiza os detalhes que fingimos não ver – nos faz enxergar a vida de um ângulo bem mais panorâmico. No filme “Abril Despedaçado” (dirigido por Walter Salles), há um exemplo formidável. O filme, uma interpretação do livro homônimo (de Ismail Kadará), apesar de enfocar a ruptura de uma tradição violenta, comum no nordeste do Brasil, mostra, transversalmente, o fascinante relacionamento do garoto “Pacu” (Ravi Lacerda) com um livro. Ambos consubstanciam a quebra de convenções, a liberdade. O “minino”, morador do “Riacho das Almas” – de fotografia desértica, monocolor, sonha em ver o mar e encontrar com a Sereia encantada.

"Pacu" - Fotograma do filme "Abril despedaçado" 

"Pacu" realiza o sonho quando ganha de presente, de andarilhos, um livro. O “minino”, sentado embaixo de um tronco de árvore seco, na companhia do livro, evade-se daquela paisagem e viaja até o mar para encontrar sua Sereia; o pai (José Dumont) priva o garoto de sonhar acordado e o proíbe de ficar com o livro (uma das cenas mais emocionantes do filme). O livro sim é o melhor amigo do homem, transcria nossa realidade e a torna suportável. Em retribuição, somos responsáveis por atualizá-lo, ressignificá-lo. Ele é um eterno dependente da nossa amizade leitora. Portanto não há autossuficiência nesta relação, necessitamos um do outro: Coexistimos. Coconstruímos e coescrevemos nossa história... 

(Hadson de Sousa) 

4 comentários:

  1. Concordo plenamente com o texto ! Difícil é incorporar esse pensamento em uma sociedade em que não se incentiva tal relacionamento com o livro desde a infância! Belíssimo texto ! Parabéns hadson

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  2. Bom... bom... gostei do texto. Parabéns!!
    Olha, tem alguns de seus melhores amigos em minha casa, mas a carapuça eu não uso... não os pedi... vc quem os deixou... kkk. bjs

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  3. Hadson,

    Parabéns pelo texto, mas também concordo com o primeiro comentário que diz que infelizmente não somos uma nação leitora. Todavia...estamos estudando tanto para quê, afinal? Precisamos acreditar que podemos contribuir para uma sociedade que aprecie e conheça este "melhor amigo do homem". Você, sem dúvida, já está fazendo sua parte. Divulgarei seu artigo aos professores que conheço. Outra questão importante: nossos espaços públicos de leitura não são nada atrativos e contribuem para a desmotivação do povo, além do mais, os livros poderiam ser distribuidos gratuitamente ou a preços populares para que todos tivessem acesso.

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  4. Oi Hadson
    Muito bom o texto, falta leitura no Brasil...livros muito caros, não existe a cultura de comprar livros usados, as bibliotecas não são atraentes, etc...E a grande massa popular faz da Globo sua fonte de informações...complicado!
    Bjs e parabéns pelo blog!

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