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quarta-feira, 8 de junho de 2011

POR UM TEMPO DE LUZ...


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Vou me deixar levar, como nunca dantes, pelos moldes desse gênero que aprisiona a minha vontade de representar e a reduz à simplicidade; às vezes ao mero acaso. Aos fatos mais insignificantes do cotidiano, talvez. Cotidiano!!!!! Palavrinha que causa repulsa em alguns e vontade de viver noutros. E é justamente quando o cotidiano é surpreendido pelo novo, que será engolido logo depois por ele, que irrompe esta vontade... Vontade de...
Então, para iniciar um bate-papo, vou começar por algo visível, exterior, bem cotidiano. Não pelo afã de tornar visível o que não era invisível. Mas para trazer a luz o que, por anos, esteve à sombra e foi negado pelo descaso e desinteresse próprios da politicagem...
Outro dia passeando à noite com minha família pela histórica Avenida Barão de Capanema, algo iluminado atraiu nossa atenção. De fato, foi a luz que fez com que nossos olhos fixassem aquela paisagem, antes ignorada. Apesar de ter mais de uma década entre nós estava totalmente abandonada pelo descaso social. Não deu para conter os comentários. Sabem quando uma criança vislumbra algo que não é novo, mas está de cara nova? Então, espantados, não apenas com a luz, em coro dissemos: OOOOHHHH!!!! Soou aproximado ao Aleluia de Handel... Eu particularmente estava diante do inacreditável, da concretização de um sonho engasgado de muitos capanemenses. Não acreditava que no meio deste Mato Azarado irromperia um dia o Campus da Universidade Federal do Pará.  

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Minha memória descrente acionou vários recortes abandonados... Foi impossível não lembrar os anos de escuridão que vivi no antigo (e posso usar este termo com convicção e alegria agora) Núcleo da UFPA/Capanema. Quando fui aprovado no curso de Letras (Noturno) ficava imaginando, como seria passar quatro anos num ambiente inóspito, hostil, mítico, totalmente descontextualizado de um universo acadêmico; que surge com as ideias do pensamento racional.
A turma de Letras-2006 teve de transformar o famigerado Núcleo (hoje o iluminado Campus) num universo acadêmico. Um espaço, totalmente, anti-universitário, numa universidade. No universo das letras. Fizemos daquela sala hostil, um espaço dialético e dialógico: Um lugar de produção de conhecimento; e não nos comportamos como meros expectadores. Fomos atores do espetáculo de nossa formação acadêmica. Ressuscitamos a Arcádia grega onde os deuses reuniam-se para produzir conhecimentos; ressignificamos, ou reafirmamos o rótulo de academia. Pena que estas transformações não se estenderam ao espaço físico: nossa voz clamava num deserto de recursos básicos, como uma lâmpada para iluminar a sala de aula.
O que os professores, advindos de outros campi da UFPA, nos diziam em uníssono e, alguns colegas desconfiavam, constatamos, hoje, que era verdadeiro. Não fomos graduandos passivos... Não saímos ilesos da academia, embora lesados... Com palavras aspeadas reitero: “Vocês são uma tribo, não de um chefe, mas de vários caciques...” (declarou, emocionado, o professor Francisco Pereira do campus de Bragança). É, dedicamo-nos muito... Não fazíamos o que nos delegavam, não nos conformávamos com a caótica situação do antigo núcleo. Com a irracionalidade tornada política, antidesenvolvimentista. Transcendemos esse determinismo político atroz; pagamos, algumas vezes, um preço alto por isso... Quase éramos exilados para o campus de Bragança.
Assim, apesar das reivindicações, protestos e manifestações, carecíamos, sobretudo, de um ILUMINISMO (longe de mim, querer esvaziar este signo petrificado na história ou atribuir sentidos outros)... Necessitávamos de uma revolução neste âmbito. Sair do caos da falta de expressão e visibilidade. Quando eu comentava com alguém que estava cursando Letras na UFPA/Capanema, as pessoas, espantadas, diziam que não sabiam da existência desta instituição no nosso município. Quando eu dizia que funcionava num prédio na Av. Barão de Capanema, aguçava ainda mais a curiosidade, pois eram inevitáveis descrições do tipo: “lá naquele prédio abandonado, cheio de mato...”. Na época da eleição para reitor decidimos, esperançosos, apoiar o Professor Carlos Maneschy, sob a condição de que ele voltaria o olhar para a UFPA/Capanema.     

Hoje, pelas mãos do professor Álvaro Lobo, Capanema está sendo reembolsada de um sonho roubado... Sonho de muitos jovens que tiveram que sair daqui para estudar e, de tantos outros, que por serem de famílias com situação financeira módica, abortaram o sonho por falta de oportunidade. O revés da história ofusca-se com a luminosidade de um presente concreto que quer subsumir este pretérito injusto. Pois o novo momento desta instituição em Capanema não comporta essa faceta da temporalidade. Entretanto torna visível um desejo estancado, sem satisfação, que jazia na memória de muitos e, agora ressuscita, apesar do breve tempo e dos parcos investimentos, por parte da atual gestão municipal, cheio de “memória de futuro”.
(Hadson de Sousa)

2 comentários:

  1. Diz o ditado que "O sol nasce para todos, mas muitos estão dormindo". Vejo que em você o sol aqueceu e junto com a luz da Universidade, deixou em vc um brilho que reluz.
    Que belas palavras e reconhecimento pela UFPA que era e a que temos hoje. Só homens com o ideal, força e competewncia como o Prof. Alvaro Lobo, são capazes de lutar pelo interesse do bem comum conseguem desenvolver um bom trabalho. Continue firme. Acadêmico

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  2. Também fiquei estagnada e contente em vê a Ufpa/Capamema-Pará em destaque na Avenida Barão de Capanema. Sim, essa é a Ufpa/Capanema que em outrora desejei; mas não tive que acabar com o sonho de ter uma formação acadêmica e sim forçada a deslocar-me para a cidade de Capitão Poço para realizá-lo.
    Desejo que tenhamos sempre em Capanema pessoas de “garra” que busquem melhorias para os capanemenses. E que esses possam se orgulhar de nossa cidade – pólo - universitária.

    (Letrada-2004/2008)

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