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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

ÀQUELES QUE EDUCAM...


             
             Dentre as reflexões e críticas do pensamento do educador Rubem Alves, acerca do processo ensino-aprendizagem, há duas bastantes ferrenhas ao atual panorama da educação formal no Brasil; numa coletânea de textos: “Conversas com quem gosta de ensinar”. A primeira diz respeito à dicotomia, engendrada por este autor, entre EDUCADOR e PROFESSOR. No bate-papo Sobre Jequitibás e Eucaliptos*, ele incita: “Educadores, onde estarão? Em que covas terão se escondido?”. E ratifica: “Professores, há aos milhares”. Esclarece: “... professor é profissão. Não é algo que define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança”. Rubem Alves explica que o Educador valoriza a relação horizontal com o aluno; não está numa sala de aula com o objetivo de ministrar uma “disciplina” (termo militar para este autor). Todavia para doar-se, ao outro na construção do conhecimento crítico- reflexivo - aprender mais que ensinar. “De Educadores para professores realizamos o salto de pessoa para funções”, reitera.


A segunda, que figura na conversa Sobre moluscos e homens*, realça que Há mais diferenças entre professores e Educadores que moluscos e homens. O Educador, análogo ao molusco, é um ser que pensa sobre o sentido da prática educativa, ou seja, produz, antes, a concha do conhecimento que irá acompanhá-lo, protegê-lo, na luta pela sobrevivência, numa perspectiva que vai além do ambiente educativo. Reflete sobre o “por que e para quê e o que ensinar?” e, não se submete à organização lógica do ensino, pautada em “diretrizes curriculares” modalizadoras, voltada para fixação de conteúdos necessários para uma avaliação tradicional ou exames, que brincam de mensurar a capacidade de memorização. A aprendizagem por meio da fixação tem prazo de validade, torna-se um conhecimento perecível. Com pouco tempo, o que foi “fixado” é automaticamente “deletado”. À voz do autor, “o aprendido é aquilo que fica depois que tudo foi esquecido”. Portanto, o conhecimento deve ser a concha que o nosso corpo, gelatinoso, produz para sobreviver.


Diante do exposto, faz-se mister refletir: as políticas educacionais são direcionadas aos professores e auxilia-os na profissão (professor: aquele que deveria professar) e na execução dos currículos, famosas “grades curriculares” que os aprisionam e da qual não querem se libertar (vítimas algozes). Como explica Rubem Alves, “É preciso mudar os sentimentos e as idéias na cabeça dos professores. Somente com uma transformação nos professores teremos uma transformação na educação”. Assim, seria de bom alvitre, de acordo com este autor, repensar o processo ensino-aprendizagem e, também, o papel de seu agente principal: o professor. Um profissional que, antes de qualquer coisa, precisa aprender a Educar (preparar para fora), amar seu ofício e seus alunos. Já que é difícil mudar o sistema educacional, pautado em dados estatísticos, o professor deveria buscar a “filosofia dos moluscos” e produzir a “concha” de Educador para, então, transformar sua prática e, consequentemente, o sistema educacional.            
(HADSON DE SOUSA)
* clique e leia os textos na íntegra:

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