MATO AZARADO DAS ARTES
(Manifesto Pela Cultura Artística)
(Manifesto Pela Cultura Artística)
PRELÚDIO
Uma cidadezinha qualquer, sim... Mesmo sendo a minha, a sua, a nossa Capanema. Além de “zinha”, é revestida pela massa cinzenta disforme que a rotula: “terra do cimento”. O concreto frio, grotesco, que soterrou o Ouricuri, lhe dá uma fachada de polis. E, a analogia capitalista e esdrúxula do ícone londrino, que revestiu impiedosamente o antigo relógio da praça, um toque cosmopolita. Mas não importa. Tantas coisas foram e são suprimidas (se pela modernidade, a cidade ganharia algo com isso, claro...). Para os capanemenses que têm quase a mesma idade da “cidadezinha qualquer” resta-lhes as imagens efêmeras da memória. Para a atual e futuras gerações ainda resistem teimosamente, como a palmeira da praça, algumas fotografias que perpetuam àquelas imagens da Capanema que jazz, sem deixar vestígios. Museu: Gaveta de Guardados... “Só me interessa o que não é meu”. Lei dos homens de parca inteligência. Resistiremos às insídias da ninfa Calipso?
I ATO
Uma cidadezinha qualquer, sem expressividade... É esta a impressão arquivada pelos visitantes que não estão piscoadaptados com as paisagens acromáticas engendradas pelo cimento amorfo; não é só nossa mata que é verde-cinzento. Pensemos em outras cidadezinhas que não têm a cor do concreto, entretanto são mais concretas que a “cidadezinha qualquer”. Despontaram no cenário nacional e internacional como as grandes cidades de pedras. Salve a terra da marujada; a terra do carimbó; a menina morena, flor do grão Pará; a terra da farinha de tapioca; a terra do carnaval folclórico; a terra do festival do carimbó; a terra da festa da pororoca; a terra do sairé; a cidade dos ipês e da melhor quadrilha junina do Brasil; a terra da festa do mingau; a terra da festa do açaí etc. etc. etc. E a terra da farinhada?! Alguém já ouviu falar?! Nem em Kitsch (subproduto) nossa arte transformou-se, todavia somos concretistas. Caímos nos braços de Calipso...
II ATO
Os ícones da cultura artística são responsáveis, em muitas realidades, pelo desenvolvimento e expressividade do local. Muitos municípios, estados ou países são vendidos para mundo inteiro por causa de sua produção artística. Até quando o “Mato Azarado” ficará no anonimato? Parece que Cabral se esqueceu de descobrir estas terras Panemas... Até quando a cultura artística, os artistas da “cidadezinha qualquer” serão ovacionados por aplausos alheios, em palcos alheios, em terras alheias?... Até quando teremos que sacudir a poeira de cimento dos sapatos e exportar nossa arte, que é realmente concreta, sem verticalizar os louros? Até quando não teremos e/ou receberemos reconhecimento neste “Mato Azarado”, pela nossa arte que conquistou o Brasil, o mundo? Sabemos que santo de casa não faz milagre, mas continua fazendo arte... Até quando não teremos espaços que comportem nossa arte gigantesca? Nossa cultura artística está estacionada; pronta para partir. Não podemos reconstruir o passado, poderíamos construir o presente. Contudo, sucumbimos ao encanto de Calipso, não resistimos. Roda, roda, roda à toa...
CODA
Poderíamos ser a terra do forró; a cidade das quadrilhas juninas: Os caipiras, Explosão, Sensação, Emoção etc.; a terra da vaquejada: o nordeste no Pará; herança atávica dos nossos ascendentes. Mas somos apenas um pedaço de terra no nordeste paraense. Poderíamos ser a terra da arte suprema, declamada por vozes ilustres, premiadas: Estélio, Zé Raimundo, Paulo, Lurdinha, Telma, Leal, Socorro e tantos outros. Poderíamos ser a terra dos tapetes de serragem: Corpus Christi (arte e fé). Poderíamos ser a terra do maior teatro de arena do estado: Paixão de Cristo - ELCAP. Poderíamos ser a cidade de Emmanuel Nassar, famoso artista plástico, desconhecido dos seus conterrâneos, claro. Poderíamos ser a capital paraense da dança: do carimbó, do boi-bumbá, da marujada, da dança de rua, do balé clássico da Academia de Dança "Chiara Rêgo" etc. etc. etc. Poderíamos ser a terra da melhor banda fanfarra do Brasil: CSA. Terra da música erudita e popular. Porém só sabemos dançar ao ritmo de Calipso, pois caímos nas graças de Calipso. Não resistimos ao encanto de Calipso. Calipso...
Amigo Hadson. PARABÉNS! Sem dúvida alguma você está com toda a razão. Mesmo não sendo filha dessa Terra chamada Capanema, me entristece saber e perceber o desprezo às raízes culturais tão presentes aqui. E você, sabiamente, colocou em seu blog. Tomara que todos leiam e reflitam. Somos terra de tantas artes...porque CALIPSO?
ResponderExcluirAbraços e meu apoio sempre!
Rosana Sidrim