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sábado, 30 de outubro de 2010

MATO AZARADO DAS ARTES


MATO AZARADO DAS ARTES

 (Manifesto Pela Cultura Artística)


PRELÚDIO
Uma cidadezinha qualquer, sim... Mesmo sendo a minha, a sua, a nossa Capanema. Além de “zinha”, é revestida pela massa cinzenta disforme que a rotula: “terra do cimento”. O concreto frio, grotesco, que soterrou o Ouricuri, lhe dá uma fachada de polis. E, a analogia capitalista e esdrúxula do ícone londrino, que revestiu impiedosamente o antigo relógio da praça, um toque cosmopolita. Mas não importa. Tantas coisas foram e são suprimidas (se pela modernidade, a cidade ganharia algo com isso, claro...). Para os capanemenses que têm quase a mesma idade da “cidadezinha qualquer” resta-lhes as imagens efêmeras da memória. Para a atual e futuras gerações ainda resistem teimosamente, como a palmeira da praça, algumas fotografias que perpetuam àquelas imagens da Capanema que jazz, sem deixar vestígios. Museu: Gaveta de Guardados... “Só me interessa o que não é meu”. Lei dos homens de parca inteligência. Resistiremos às insídias da ninfa Calipso?  

I ATO
Uma cidadezinha qualquer, sem expressividade... É esta a impressão arquivada pelos visitantes que não estão piscoadaptados com as paisagens acromáticas engendradas pelo cimento amorfo; não é só nossa mata que é verde-cinzento. Pensemos em outras cidadezinhas que não têm a cor do concreto, entretanto são mais concretas que a “cidadezinha qualquer”. Despontaram no cenário nacional e internacional como as grandes cidades de pedras. Salve a terra da marujada; a terra do carimbó; a menina morena, flor do grão Pará; a terra da farinha de tapioca; a terra do carnaval folclórico; a terra do festival do carimbó; a terra da festa da pororoca; a terra do sairé; a cidade dos ipês e da melhor quadrilha junina do Brasil; a terra da festa do mingau; a terra da festa do açaí etc. etc. etc. E a terra da farinhada?! Alguém já ouviu falar?! Nem em Kitsch (subproduto)  nossa arte transformou-se, todavia somos concretistas. Caímos nos braços de Calipso...  

II ATO
Os ícones da cultura artística são responsáveis, em muitas realidades, pelo desenvolvimento e expressividade do local. Muitos municípios, estados ou países são vendidos para mundo inteiro por causa de sua produção artística. Até quando o “Mato Azarado” ficará no anonimato? Parece que Cabral se esqueceu de descobrir estas terras Panemas... Até quando a cultura artística, os artistas da “cidadezinha qualquer” serão ovacionados por aplausos alheios, em palcos alheios, em terras alheias?... Até quando teremos que sacudir a poeira de cimento dos sapatos e exportar nossa arte, que é realmente concreta, sem verticalizar os louros? Até quando não teremos e/ou receberemos reconhecimento neste “Mato Azarado”, pela nossa arte que conquistou o Brasil, o mundo? Sabemos que santo de casa não faz milagre, mas continua fazendo arte... Até quando não teremos espaços que comportem nossa arte gigantesca? Nossa cultura artística está estacionada; pronta para partir. Não podemos reconstruir o passado, poderíamos construir o presente. Contudo, sucumbimos ao encanto de Calipso, não resistimos. Roda, roda, roda à toa...

CODA
 Poderíamos ser a terra do forró; a cidade das quadrilhas juninas: Os caipiras, Explosão, Sensação, Emoção etc.; a terra da vaquejada: o nordeste no Pará; herança atávica dos nossos ascendentes. Mas somos apenas um pedaço de terra no nordeste paraense. Poderíamos ser a terra da arte suprema, declamada por vozes ilustres, premiadas: Estélio, Zé Raimundo, Paulo, Lurdinha, Telma, Leal, Socorro e tantos outros. Poderíamos ser a terra dos tapetes de serragem: Corpus Christi (arte e fé). Poderíamos ser a terra do maior teatro de arena do estado: Paixão de Cristo - ELCAP. Poderíamos ser a cidade de Emmanuel Nassar, famoso artista plástico, desconhecido dos seus conterrâneos, claro. Poderíamos ser a capital paraense da dança: do carimbó, do boi-bumbá, da marujada, da dança de rua, do balé clássico da Academia de Dança "Chiara Rêgo" etc. etc. etc. Poderíamos ser a terra da melhor banda fanfarra do Brasil: CSA. Terra da música erudita e popular. Porém só sabemos dançar ao ritmo de Calipso, pois caímos nas graças de Calipso. Não resistimos ao encanto de Calipso. Calipso...  

Um comentário:

  1. Amigo Hadson. PARABÉNS! Sem dúvida alguma você está com toda a razão. Mesmo não sendo filha dessa Terra chamada Capanema, me entristece saber e perceber o desprezo às raízes culturais tão presentes aqui. E você, sabiamente, colocou em seu blog. Tomara que todos leiam e reflitam. Somos terra de tantas artes...porque CALIPSO?
    Abraços e meu apoio sempre!
    Rosana Sidrim

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