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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

ÀQUELES QUE EDUCAM...


             
             Dentre as reflexões e críticas do pensamento do educador Rubem Alves, acerca do processo ensino-aprendizagem, há duas bastantes ferrenhas ao atual panorama da educação formal no Brasil; numa coletânea de textos: “Conversas com quem gosta de ensinar”. A primeira diz respeito à dicotomia, engendrada por este autor, entre EDUCADOR e PROFESSOR. No bate-papo Sobre Jequitibás e Eucaliptos*, ele incita: “Educadores, onde estarão? Em que covas terão se escondido?”. E ratifica: “Professores, há aos milhares”. Esclarece: “... professor é profissão. Não é algo que define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança”. Rubem Alves explica que o Educador valoriza a relação horizontal com o aluno; não está numa sala de aula com o objetivo de ministrar uma “disciplina” (termo militar para este autor). Todavia para doar-se, ao outro na construção do conhecimento crítico- reflexivo - aprender mais que ensinar. “De Educadores para professores realizamos o salto de pessoa para funções”, reitera.


A segunda, que figura na conversa Sobre moluscos e homens*, realça que Há mais diferenças entre professores e Educadores que moluscos e homens. O Educador, análogo ao molusco, é um ser que pensa sobre o sentido da prática educativa, ou seja, produz, antes, a concha do conhecimento que irá acompanhá-lo, protegê-lo, na luta pela sobrevivência, numa perspectiva que vai além do ambiente educativo. Reflete sobre o “por que e para quê e o que ensinar?” e, não se submete à organização lógica do ensino, pautada em “diretrizes curriculares” modalizadoras, voltada para fixação de conteúdos necessários para uma avaliação tradicional ou exames, que brincam de mensurar a capacidade de memorização. A aprendizagem por meio da fixação tem prazo de validade, torna-se um conhecimento perecível. Com pouco tempo, o que foi “fixado” é automaticamente “deletado”. À voz do autor, “o aprendido é aquilo que fica depois que tudo foi esquecido”. Portanto, o conhecimento deve ser a concha que o nosso corpo, gelatinoso, produz para sobreviver.


Diante do exposto, faz-se mister refletir: as políticas educacionais são direcionadas aos professores e auxilia-os na profissão (professor: aquele que deveria professar) e na execução dos currículos, famosas “grades curriculares” que os aprisionam e da qual não querem se libertar (vítimas algozes). Como explica Rubem Alves, “É preciso mudar os sentimentos e as idéias na cabeça dos professores. Somente com uma transformação nos professores teremos uma transformação na educação”. Assim, seria de bom alvitre, de acordo com este autor, repensar o processo ensino-aprendizagem e, também, o papel de seu agente principal: o professor. Um profissional que, antes de qualquer coisa, precisa aprender a Educar (preparar para fora), amar seu ofício e seus alunos. Já que é difícil mudar o sistema educacional, pautado em dados estatísticos, o professor deveria buscar a “filosofia dos moluscos” e produzir a “concha” de Educador para, então, transformar sua prática e, consequentemente, o sistema educacional.            
(HADSON DE SOUSA)
* clique e leia os textos na íntegra:

SOBRE JEQUITIBÁS E EUCALIPTOS


"Educadores, onde estarão? Em que covas se terão escondido? Professores, há aos milhares. Mas o professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança. Profissões e vocações são como plantas. Vicejam e florescem em nichos ecológicos, naquele conjunto precário de situações que as tornam possíveis e - quem sabe? - necessárias. Destruído esse habitat, a vida vai-se encolhendo, murchando, fica triste, mirra, entra para o fundo da terra, até sumir.
E o educador? Que terá acontecido com ele? Existirá ainda o nicho ecológico que torna possível a sua existência? Resta- lhe algum espaço? Será que alguém lhe concede a palavra ou lhe dá ouvidos? Merecerá sobreviver? Tem alguma função social ou económica a desempenhar?
Uma vez cortada a floresta virgem, tudo muda. É bem verdade que é possível plantar eucaliptos, essa raça sem vergonha que cresce depressa, para substituir as velhas árvores seculares que ninguém viu nascer nem plantou. Para certos gostos, fica até mais bonito: todos enfileirados, em permanente posição de sentido, preparados para o corte. E para o lucro. Acima de tudo, vão-se os mistérios, as sombras não penetradas e desconhecidas, os silêncios, os lugares ainda não visitados. O espaço racionaliza-se sob a exigência da organização. Os ventos não mais serão cavalgados por espíritos misteriosos, porque todos eles só falarão de cifras, financiamentos e negócios.
Que me entendam a analogia. Pode ser que educadores sejam confundidos com professores, da mesma forma como se pode dizer. jequitibá e eucalipto, não é tudo árvore, madeira? No final, não dá tudo no mesmo? Não, não dá tudo no mesmo, porque cada árvore é a revelação de um habitat, cada uma delas tem cidadania num mundo específico. A primeira, no mundo do mistério, a segunda, no mundo da organização, das instituições, das finanças. Há árvores que têm personalidade e os antigos acreditavam mesmo que possuíam uma alma. É aquela árvore, diferente de todas, que sentiu coisas que ninguém mais sentiu. Há outras que são absolutamente idênticas umas às outras, que podem ser substituídas com rapidez e sem problemas.
Eu diria que os educadores são como as velhas árvores. Possuem uma face, um nome, uma "história" a ser contada. Habitam um mundo em que o que vale é a relação que os liga aos alunos, sendo que cada aluno é uma "entidade" sui generis, portador de um nome, também de uma "história", sofrendo tristezas e alimentando esperanças. E a educação é algo para acontecer nesse espaço invisível e denso, que se estabelece a dois. Espaço artesanal.
Mas professores são habitantes de um mundo diferente, onde o "educador" pouco importa, pois o que interessa é um "crédito" cultural que o aluno adquire numa disciplina identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais, nenhuma diferença faz aquele que a ministra. Por isso professores são entidades "descartáveis", da mesma forma como há canetas descartáveis, coadores de café descartáveis, copinhos de plástico para café descartáveis. De educadores para professores realizamos o mesmo salto que de pessoa para funções. (...) Não sei como preparar o educador. Talvez porque isso não seja nem necessário nem possível... É necessário acordá-lo. E aí aprenderemos que educadores não se extinguiram como tropeiros e caixeiros. Porque, talvez, nem tropeiros nem caixeiros tenham desaparecido, mas permaneçam como memórias de um passado que está mais próximo do nosso futuro que o ontem. Basta que os chamemos do seu sono, por um acto de amor e coragem. E talvez, acordados, repetirão o milagre da instauração de novos mundos."
[ALVES, Rubem. Sobre Jequitibás e Eucaliptos. in: Conversas com Quem Gosta de Ensinar]


SOBRE MOLUSCOS E HOMENS

            
      
Piaget, antes de se dedicar aos estudos da psicologia da aprendizagem, fazia pesquisas sobre os moluscos dos lagos da Suiça. Os moluscos são animais fascinantes. Dotados de corpos moles, seriam petiscos deliciosos para os seres vorazes que habitam as profundezas das águas e há muito teriam desaparecido se não fossem dotados de uma inteligência extraordinária. Sua inteligência se revela no artifício que inventaram para não se tornarem comida dos gulosos: constroem conchas duras – e lindas! - que os protegem da fome dos predadores. Ignoro detalhes da biografia de Piaget e não sei o que o levou a abandonar seu interesse pelos moluscos e a se voltar para a psicologia da aprendizagem dos humanos. Não sabendo, tive de imaginar. E foi imaginando que pensei que Piaget não mudou o seu foco de interesse. Continou interessado nos moluscos. Só que passou a concentrar sua atenção num tipo específico de molusco chamado “homem”. Se é que você não sabe, digo-lhe que muito nos parecemos com eles: nós, homens, somos animais de corpo mole, indefesos, soltos numa natureza cheia de predadores. Comparados com os outros animais nossos corpos são totalmente inadequados à luta pela vida. Vejam os animais. Eles dispõem apenas do seu corpo para viver. E o seu corpo lhes basta. Seus corpos são ferramentas maravilhosas: cavam, voam, correm, orientam-se, saltam, cortam, mordem, rasgam, tecem, constroem, nadam, disfarçam-se, comem, reproduzem-se. Nós, se abandonados na natureza apenas com o nosso corpo, teríamos vida muito curta. A natureza nos pregou uma peça: deixou-nos, como herança, um corpo molengão e inadequado que, sozinho, não é capaz de resolver os problemas vitais que temos de enfrentar. Mas, como diz o ditado, “é a necessidade que faz o sapo pular”. E digo: é a necessidade que faz o homem pensar. Da nossa fraqueza surgiu a nossa força, o pensamento. Parece-me, então, que Piaget, provocado pelos moluscos, concluiu que o conhecimento é a concha que construímos a fim de sobreviver. O desenvolvimento do pensamento, mais que um simples processo lógico, desenvolve-se em resposta a desafios vitais. Sem o desafio da vida o pensamento fica a dormir... O pensamento se desenvolve como ferramenta para construirmos as conchas que a natureza não nos deu.

O corpo aprende para viver. É isso que dá sentido ao conhecimento. O que se aprende são ferramentas, possibilidades de poder. O corpo não aprende por aprender. Aprender por aprender é estupidez. Somente os idiotas aprendem coisas para as quais eles não têm uso. Somente os idiotas armazenam na sua memória ferramentas para as quais não têm uso. É o desafio vital que excita o pensamento. E nisso o pensamento se parece com o pênis. Não é por acidente que os escritos bíblicos dão ao ato sexual o nome de “conhecimento”... Sem excitação a inteligência permanece pendente, flácida, inútil, boba, impotente. Alguns há que, diante dessa inteligência flácida, rotulam o aluno de “burrinho”... Não, ele não é burrinho. Ele é inteligente. E sua inteligência se revela precisamente no ato de recusar-se a ficar excitada por algo que não é vital. Ao contrário, quando o objeto a excita, a inteligência se ergue, desejosa de penetrar no objeto que ela deseja possuir.

Os ditos “programas” escolares se baseiam no pressuposto de que os conhecimentos podem ser aprendidos numa ordem lógica predeterminada. Ou seja: ignoram que a aprendizagem só acontece em resposta aos desafios vitais que estão acontecendo no momento ( insisto nessa expressão “no momento” – a vida só acontece “no momento” ) da vida do estudante. Isso explicaria o fracasso das nossas escolas. Explicaria também o sofrimento dos alunos. Explicaria a sua justa recusa em aprender. Explicaria sua alegria ao saber que a professora ficou doente e vai faltar... Recordo a denúncia de Bruno Bettelheim contra a escola: “Fui forçado (!) a estudar o que os professores haviam decidido o que eu deveria aprender – e aprender à sua maneira...” Não há pedagogia ou didática que seja capaz de dar vida a um conhecimento morto. Sòmente os necrófilos se excitam diante de cadáveres.

Acontece, então, o esquecimento: o supostamente aprendido é esquecido. Não por memória fraca. Esquecido porque a memória é inteligente. A memória não carrega conhecimentos que não fazem sentido e não podem ser usados. Ela funciona como um escorredor de macarrão. Um escorredor de macarrão tem a função de deixar passar o inútil e guardar o util e prazeroso. Se foi esquecido é porque não fazia sentido. Por isso acho inúteis os exames oficiais ( inclusive os vestibulares ) que se fazem para avaliar a qualidade do ensino. Eles produzem resultados mentirosos por serem realizados no momento em que a água ainda não escorreu. Eles só diriam a verdade se fossem feitos muito tempo depois, depois do esquecimento haver feito o seu trabalho. O aprendido é aquilo que fica depois que tudo foi esquecido... Vestibulares: tanto esforço, tanto sofrimento, tanto dinheiro, tanta violência à inteligência... O que sobra no escorredor de macarrão, depois de transcorridos dois meses? O que restou no seu escorredor de macarrão de tudo o que você teve de aprender? Duvido que os professores de cursinhos passem nos vestibulares. Duvido que um professor de português se saia bem em matemática, física, química e biologia... Eles também esqueceram. Duvido que os professores universitários passem nos vestibulares. Eu não passaria. Então, por que essa violência que se faz sobre os estudantes?

Ah! Piaget! Que fizeram com o seu saber? Que fizeram com a sua sabedoria? É preciso que os educadores voltem a aprender com os moluscos...

[ALVES, Rubem. Sobre Moluscos e Homens. in: Conversas com Quem Gosta de Ensinar]

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

VOTAR OU VOTAR? EIS A OBRIGAÇÃO...

 

No domingo subsequente, exerceremos a “democracia”? Nosso poder de escolha? Iremos por livre e espontânea vontade fazer valer nosso direito de votar e ser votado (no caso dos CÂNDIDOS)? Como discutido outrora neste espaço: “... nós, heróis idealizados desta pátria, temos nossos direitos políticos: além do direito de voto obrigatório em eleições (o direito de votar e de ser votado), também constituem direitos políticos o de voto (novamente) em plebíscitos e referendos, o direito de INICIATIVA POPULAR (escasso neste âmbito, nos dias atuais) e, o direito de organizar e participar de partidos políticos. Quanto nonsense... Nosso ‘... partido é um coração partido’. Como se não bastasse, há a hipótese de perda e suspensão de direitos políticos – ‘Quando a esmola é grande, o santo desconfia’. Salve a Democracia brasileira... DEMOcracia!!!???”


JEITINHO BRASILEIRO: NEODEMOCRACIA...

Neodemocracia brasileira: escolher e escolher...

Nossa lei eleitoral criou uma NEODEMOCRACIA; redimensionou o sentido do verbo “escolher”; engendrou um novo verbo frasal “ter de escolher”. Na moderníssima urna eletrônica não há aquela opção: “Nenhuma das alternativas...”, somos condicionados a escolher e pensamos estar exercendo nosso poder de escolha, cidadania. No processo eleitoral temos de escolher, sempre. Mesmo que o ANTIVOTADOR escolha, na caixa preta da política, a opção NULO, tecle uma combinação numérica qualquer e aperte CONFIRMA, ou queira tornar límpido o voto e escolha a opção BRANCO, isso não tornará possível o direito de “não escolher”. Nesta eleição, os votos brancos e nulos somarão, ainda, e elegeremos, de qualquer forma, dentre os CANDIDATUS, um representante para fazer usufruto do estado e da república. Sabe aquela máxima: “Penso que sim, penso que não. Antes pelo contrário...”. É assim que o VOTADOR sente-se diante da caixa de Pandora eletrônica. Mas é a festa da democracia – sistema comprometido com a igualdade ou a distribuição igualitária do poder... Faz de conta que é assim. 
         CAIXA DE PANDORA ELETRÔNICA
 
O mito da caixa de Pandora faz alusão à origem dos males que permeiam o mundo.

Já que se há de votar... Então, o que fazer diante da urna?  Vamos pensar naquela versão, menos coerente e plausível da caixa de Pandora, da mitologia grega. Pandora, primeira mulher a existir, criação dos deuses Hefesto e Atenas, foi enviada de presente para agradar aos homens. Epimeteu, que guardava outro presente dos deuses: uma caixa onde continha todos os males, responsabilizou-se e casou-se com Pandora. Ela por curiosidade e descuido, abriu a caixa e, alguns males escaparam... Na ânsia de reparar o erro, Pandora fecha a caixa, contudo restou apenas um mal: a ESPERANÇA... É, se o futuro do país estará nas CAIXAS ELETRÔNICAS DE PANDORA neste domingo, resta-nos ter ESPERANÇA e torcer para que dos males escolhamos o menor. E se pensarmos que “A esperança é um urubu pintado de verde”? Oh céus! Continuaremos no Caos... O VOTADOR pode, outrossim, analisar e votar no discurso menos utópico: “No meu governo o Brasil será a maior potência do mundo; acabamos com a fome no país; hoje, a maioria dos brasileiros é de classe média...” Humm!? “No meu governo todos os brasileiros terão água tratada; 13º salário do bolsa família; aumentarei o salário mínimo para R$ 600,00; construirei 150 policlínicas, além de hospitais e postos de atendimento para dependentes químicos.” Falácias? O que será que será?       

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

POR UMA POLÍTICA(GEM) DA IMAGEM


       Se não bastasse a poluição ambiental – falta de saneamento básico; consciência ecológica; local e coletores apropriados para se desfazer do LIXO – desde julho deste ano somos bombardeados, à queima roupa, por uma poluição sonora e visual. Ainda bem que o som se dilui no espaço, apesar de martelar em nossas mentes, às vezes – perturbação passageira. Mas a imagem, o deus da contemporaneidade, aprisiona nossa atenção (monotonia das alienadas retinas...): Rostos “límpidos”, expressões cândidas, sinceras, verdadeiras. Infelizmente, nem tudo que reluz é, verdadeiramente, ouro, coisa preciosa, pura, sabe?

       A imagem – ou melhor: falsa imagem, forjada em programa de computador – virou uma arma da política(gem), também. Os CANDIDATOS não respeitam, sequer, a lei instituída por um parlamentar, que tampouco respeita a ideia defendida por ele na câmara dos deputados em Brasília. A “LEI DO PHOTOSHOP”, do candidato Wladimir Costa (PMDB-PA), objetiva coibir o uso desenfreado deste programa que metaformoseia imagens. Destarte, as imagens lapidadas virtualmente, os “santinhos” que recebemos em nossas casas, deveriam conter a seguinte nota de rodapé: “ATENÇÃO: IMAGEM RETOCADA PARA ALTERAR A APARÊNCIA FÍSICA DA PESSOA RETRATADA.” Caso contrário as multas variam “... de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais) a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), cobrada em dobro, em triplo e assim sucessivamente, na reincidência, aplicada conforme a capacidade econômica do infrator”. Valores irrisórios para os reincidentes dissimuladores CANDIDATOS. Portanto, somos enganados nas mídias e posteriormente na política(gem).





FICHA LIMPA: VINGANÇA ETIMOLÓGICA

      
       A Lei Complementar da “FICHA LIMPA” (135\010), que foi vilipendiada, pelo Supremo Tribunal Federal – STF e, não terá aplicação integral nesta eleição, intuía uma vingança etimológica do vocábulo CANDIDATO, rótulo utilizado, indevidamente, pelas pessoas que pleiteiam um cargo para funcionário do povo. Contudo, até o momento, está sendo usada como certificado de LIMPIDEZ – pelos CANDIDATOS que passaram no “tipiti” desta lei (os “fichas imundas” no caso) e, dos que ainda não se renderam, por falta de oportunidade, aos encantos do dinheiro público – na degladiação pelos “votadores”. Numa das transposições mais duais e irônicas, do latim para o português, “CANDIDUS – branco brilhante (e, por extensão, puro, sincero) – gerou o verbo CANDIDARE, ser branco como a neve, com seu particípio CANDIDATU, vestido de branco”.

       Na Roma antiga, o cidadão que concorria a um cargo público, diferente dessa política suja de hoje, fazia sua campanha vestido com um manto branco de lã, simbolizando sua CANDURA: PUREZA e HONRADEZ. Em português o termo CANDIDUS transformou-se em CÂNDIDO, que deu origem a CANDURA (CANDIDURA). Daí, CANDIDATU ficou CANDIDATO, despido e desprovido, clarividente, das acepções do latim. Que revés!!! Como apregoa a máxima “lulética”: “Estou convencido de que nunca na história desse país...” os candidatos, ou cândidos, despojaram-se tanto da toga branca dos romanos – alguns deles, quiçá, por não lhe servir de símbolo, algo representativo – chegando até a usar a própria feição irisada e “photoshopada” para ludibriar os “VOTADORES”. No dia 03 de outubro, cabe a nós tornar LÍMPIDO, branco, o nosso voto obrigatório (utopia), já que se votarmos tendo como parâmetro a pseudo-imagem dos nossos CÂNDIDOS, será difícil exercer a “democracia”...




quinta-feira, 29 de abril de 2010

DIA INTERNACIONAL DA DANÇA



Para comemorar e homenagear o DIA INTERNACIONAL DA DANÇA, uma das expressões artísticas mais antigas da humanidade, a “Vitrina Cultural” divide com seus leitores um link especial com um observador e amante da DANÇA, o poeta paraense PAES LOUREIRO. HINO À DANÇA é uma de suas declarações de amor por esta arte do corpo, da alma... A todos que dançam no palco da vida: dançai sempre... Dançai... 

HINO À DANÇA

A dança é o incêndio da beleza.


É corpo que se faz obra de arte e objeto do desejo.

Poesia que se liberta da palavra.
Oceano gestual de um mar ilimitado.
O corpo na dança se faz um duplo ser
unidos braço a braço, perna a perna
torso e ventre e ventre e torso
unidos corpo e dança, dança e corpo
casto coito entre o sonho e a realidade.
Ora um ora outro torna-se visível.
A dança é língua enquanto o corpo é fala.
A dança, como um pássaro voando,
é sempre a solidão sem asas de um abismo.
Contemplá-la é contemplar as nuvens
atados à terra que nos prende ao chão.
Impossível separar dança e imaginário. O gesto que dança do corpo na dança.
Pois a dança é fogueira de um coração em chamas.


Fogueira de mãos, de braços, de olhar, de corpo inteiro.


Não se separa o dançar do amor à dança.
É o amor que dá ao corpo essa ardência, esse ardor, esse arder.
Um vulcão de quimeras é a dança.
A eternidade equilibrada em breves sapatilhas.
Vitral da alma na catedral do corpo.
Auto-retrato delicado e enérgico do ser.
Liturgia de Eros nos sentidos.
Auto-flagelação com lâminas invisíveis e glorificação narcísica do corpo.
Pois é no corpo, celebrante celebrado, que a dança tem morada.
E faz o corpo habitar o mundo com leveza.


Emoção inseparável, a dança brota da carne como a ilusão brota da vida; como as pétalas, da flor; como o calor, do amor; como o suor, do ardor do sexo; como a lua nasce do luar.
A dança torna visíveis poderes invisíveis mágicos ou místicos.
Turíbulo de símbolos.
Pólen dos delírios.
É a poesia que dança no corpo que dança, jogo de espelhos paralelos.
Na ponta dos pés da bailarina, equilíbram-se o mundo e o destino,
com a leveza levíssima de um suspiro pousando no silêncio.
O corpo que dança se liberta, porque a dança é asa e vôo por sobre a cordilheira da existência.
Risco entre o ser e o não-ser, a vida e a morte, o tempo e a eternidade.
O que ama se converte em ser amado. O corpo que dança em dança se transforma.
A dança é transparência mais leve do que o ar.

Porque o lugar da dança está no ser que dança.
Persona e personagem.
O corpo feito linguagem.
Nada mais visceral e cósmico do que a respiração ofegante e sôfrega após a dança. A bailarina volta a
respirar por seus humanos pulmões. Mergulhada no mar de encantarias de sua arte é como se respirasse
pelas guelras de Iaras e Sereias. E só voltasse a respirar humanamente quando, após a dança,


vê-se retornada ao mundo de todos nós meros mortais.
A dança não tem fim.
Ela apenas se recolhe ao corpo de quem dança
como as chamas de um vulcão jamais extinto.
Oh! Dança, glória do corpo, razão da alma, sagração do olhar.
Oh! Mediadora entre o céu e o inferno da beleza.
Eu te celebro, com palavras que dançam na linguagem.
E também vós que dançais, na dança eu vos celebro!
Dançai e dançai sempre. Dançai sempre. Dançai!


João de Jesus Paes Loureiro/2003

“O REINADO DE MIRA MIRAIS”


Para comemorar e homenagear o dia internacional da dança, uma das expressões artísticas mais antigas da humanidade, a coluna “Vitrina Cultural” divide com seus leitores um trabalho realizado em nosso município e que faz parte do cenário nacional desta arte: 17ª edição do festival de dança da Academia “Chiara Rêgo”.
A academia “Chiara Rêgo” apresentou, em dezembro de 2009, mais um espetáculo de fim de ano: “O reinado de Mira Mirais”. Um clássico da literatura oral adaptado para a linguagem da dança. A professora Chiara Rêgo revivendo a estórias que fizeram parte de seu imaginário infantil, transformou em dança uma de suas aventuras prediletas, contada pelo seu pai, Fernando Rêgo (in memoriam), e que teve bastante significado para ela. “meu pai sempre foi bastante participativo, contava-nos muitas estórias”, comenta a bailarina e coreógrafa.

“O reinado de Mira Mirais” era a estória de que mais gostávamos. Havia vários episódios e, o da ‘Cabra-cabriola’ era o que nos causava mais expectativa, por ser uma estória de suspense. A ‘Cabra-cabriola’ era uma espécie de bruxa e sempre queria pegar a ‘Buzunguinha’, a mocinha da estória, que tinha uma ‘cachorrinha’. Então, sempre que aparecia cantava com uma voz tenebrosa: ‘Buzunguinha, Buzunguinha... mata a tua cachorrinha que hoje eu venho te visitar’... A Bunzuguinha assustada, respondia cantando: ‘Ela já rezou; já lavou os pés; já se agasalhou’... Ela [a Cabra-cabriola] ficava enfurecida.” Professora Chiara Rêgo narra com emoção revivendo a infância com o amado e saudoso pai. Hoje, ela conta as aventuras do “Reinado de Mira Mirais” aos filhos, Pedro e José Rêgo, que são fãs de carteirinha dos episódios e, prestigiaram o belíssimo espetáculo.

Na transposição para dança, a professora Chiara Rêgo fez algumas alterações. Localizou a estória num ambiente de clima frio, de neve o ano inteiro. “Apesar do frio, era um lugar lindo e muito alegre; seus habitantes gostavam de se divertir, e certa época do ano, pessoas do mundo inteiro iam visitar o reino. O castelo da família real era magnífico, belo. Lá moravam o rei Mira Mirais, seu filho, o príncipe Kaled, e suas oito irmãs, as princesas Mirais. O rei chamou seu filho, o príncipe Kaled, e disse que já estava na hora de casar-se, pois ele deveria dar continuidade ao reinado e, suas filhas ainda eram novas demais para casar. O príncipe compreendeu, pediu um tempo ao seu pai para que pudesse encontrar o amor de sua vida. O pai concordou”.


“O Rei, então, resolveu comemorar aquele momento com música e dança, pediu que seu filho e suas princesinhas dançassem para ele. Durante a festa são surpreendidos com a visita da ‘Fada do gelo’ que, com sua beleza e encanto, também quis participar da comemoração. Em seguida um músico da corte apresentou com uma dança, o grupo de violinistas da realeza; dançando e tocando animaram o palácio e a família real. Enquanto todos se divertiam, a fada do gelo convidou o príncipe para dar um passeio pelo reino. No meio do caminho uma surpresa: encontraram-se com uma bela moça chamada Buzunguinha, ela era de uma família nobre, e também amiga da fada. O príncipe encantou-se por Buzunguinha. A fada percebendo, deixa-os a sós. Eles apaixonaram-se. O príncipe, então, resolveu presenteá-la com uma cachorrinha encantada; este gesto deixou a moça muito feliz.” (Fragmentos do texto original).
 
Daí, com mais de cinquenta bailarinos, cenários e muita iluminação, desenrola-se a estória dançada, assinada pela professora Chiara Rêgo, coautoria com seu pai, a quem ela dedica esta montagem. Foram mais de seis meses de trabalho, incluindo: pesquisas, criação e confecção de figurinos, cenário, montagem de coreografias e muito ensaio... Quem prestigiou pode conferir o resultado desta montagem, desenvolvido pela Academia de Dança “Chiara Rêgo”. A professora Chiara divide os louros com os(as) alunos(as), pais, mães e responsáveis. Agradece, imensamente, a todos as empresas e pessoas que depositaram/depositam credibilidade neste trabalho, que a cada ano enaltece e alavanca ainda mais a cultura artística do município de Capanema. E, acima de tudo “[...] a Deus por todos estes anos de luta, sacrifícios e vitórias. Sua mão justa e poderosa está sempre ao meu lado”, declara agradecida.

(HADSON DE SOUSA)